quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Umas semaninhas de folga - Capitulo 2 - Varanasi

14 de Outubro – still enjoying the blue sky

Depois de tantos momentos especiais vividos no IC (ganhar jantar com o Presidente da AIESEC Internacional depois de vencer competição de dança do ventre, incoporar os chifrinhos de diabinha, de conversar com gente do mundo inteiro, de pensar igual as pessoas ao meu lado, de tomar guaraná antartica, de planejar viagens com amigos, enfim, tantas coias), na manhã do dia seguinte partimos para Varanasi, cidade sagrada para os hindus e onde passa aquela parte limpa e cheirosa do Ganges que a gente vê na TV. No aeroporto li no Lonely Planet (bíblia) que Varanasi é um bom lugar pra morrer. Olha meu querido não tô muito com esses planos não sabe? Antes de entrar no vôo comento com a Babi que não gosto muito daquela Cia porque só dá um povo meio estranho, mas tudo bem vamo que vamo. E realmente tinha um povo estranho no vôo, muita gente doente. Ai a Marina diz: Eles devem estar indo pra Varanasi pra morrer. Dai eu digo: Menina é mesmo, achei que era porque estamos voando de spiceJet.
Saímos do aeroporto e já foi aquele custo pra pegar o taxi. Nenhum carro passa onde precisávamos ir. Nem rickshaw nem bicicleta. Aff eu tava de mochila, mas as meninas estavam com malas um tanto quanto grandinhas. Então lá fomos nós com o taxi até onde ele podia nos deixar. Depois disso embrenhamos na cidade velha. Dessa vez as palavras que descrevem são: “Minha nossa senhora da bicicletinha, dai-me equilíbrio!” A cidade é completamente suja, de ruas estreitas, vacas e bosta de vaca pra tudo quanto é lado, muita gente andando, moto, bicicleta, defuntos passando, um inferno. Eu só pensando: aff a Babi vai me matar. Eu já estava acostumada com esse tipo de coisa, ela não. Porém, eu tentava lembrá-la sempre do primeiro válido ensinamento sobre a Índia: enxergue além do que você está vendo! Então nos abrimos para uma experiência fantástica.



Varanasi é marcada, principalmente, por sua importância como lugar religioso vinculado a morte. Para os hindus o fogo é considerado agente purificador, então os corpos (não todos) deveriam ser cremados para se purificar, tanto no sentido físico (higiene) quanto no sentido espiritual. Após a cremação, que dura 3 horas, parte dos restos mortais (peitoral para os homens e quadris para as mulheres) é jogada no Rio Ganges. Os corpos de crianças, deficientes físicos, mulheres e homens santos não são cremados, pois já são considerados puros. Assim o corpo é jogado inteiro no rio amarrados em pedras, que infelizmente as vezes se soltam dai o corpo emerge no rio. Em Varanasi existem dois grandes crematórios.
Como chegamos na guesthouse no final da tarde resolvemos tomar banho e jantar no terraço que tinha uma vista linda para o Ganges e para um dos crematórios. Da cozinha vinha um cheiro bom de carne. A gente com fome…hum cheiro bom. Dai eu pensei, ok a gente tá na Índia, como tá cheirando carne? Ai eu olhei pro fumacé saindo do crematório….kkkkk será o benedito? Kkkkk. Será que o cheiro está vindo de lá????? Aiiiiiiiiii socorroooooo. Depois de muito analisar eu bem cheguei a conclusão que o cheiro vinha era da cozinha mesmo, porém a Babi deve estar sem comer carne até hoje. Depois desse susto começo a reparar melhor o restaurante, dai vejo umas 3 lagartixas na cortina atrás de mim. Mudo de lugar e olho pra cima. A armação do teto tava coberta de lagartixas. Aiiiiiiiii meu Deussssssssssss. Olha eu agüento tudo, mas cobertura de lagartixa não. Eu dei um escadalosinho de leve, sorry. Todo mundo do restaurante estava olhando pra mim. Comi rápido, assuntei sobre o que fazer na cidade com os mochileiros e sai correndo de lá. Cama.
No outro dia eu começo a dar sinais de que o rio tava me chamando. Acordei passando mal e com muita dor no corpo. Fingi que não era comigo e fui ver a cidade. Café da manha deitada no sofá tomando suco de laranja. DERROTA. Pré desmaiada a caminho do rio com direito a parada numa loja de saree pra sentar e tentar levantar a pressão. Tô nem ai…vou conhecer o rio e depois volto pra guesthouse. Chegamos e fui negociar um barco pras meninas. Dai a transformação se consolidou, eu, com meus nove meses de Índia, já tava de saco cheio de negociações de preço, estava passando mal, tava fazendo muito calor, muitos estímulos por todos os lados, então eu explodi. Negociava gritando com o Bhaya (ou baiano segundo a Babi hehehe), quer dinheiro ou não!!!! Eu pago tanto, quer? Yes or no? Então sai da minha frente. As meninas meio impressionadas (mas elas conhecem um lado menos mal de mim então tudo bem), mas acho que assustei dois aiesecos russos que se juntaram a nós. Às vezes tenho medo de voltar bruta e mal educada pro Brasil, mas aqui na maioria das vezes essa é a única forma de não ser passada pra trás. O que interessa é que conseguimos o barco e eu acabei decidindo também me juntar ao passeio. Ficamos quase 2 horas rodando o Ganges. Ai passa um barquinho cheio de indianos e um deles enchendo uma garrafa…ai meu Deus por favor não bebe isso. Kkkk. Alguns infelizmente bebem. Por fim resolvi me deitar (não me agüentava mais sentado) e acabei cochilando. Dai a pouco descemos num dos crematórios e ficamos observando os funerais. O corpo chega em uma maca coberta de tecidos vermelhos e dourados, carregado por parentes, todos homens (as mulheres não participam, pois não conseguem controlar as emoções e segundo os hindus choro e histeria perturba o processo pelo qual o morto passa). Ao chegar o corpo é coberto por toras de madeira (o tipo de madeira depende de quanto a família pode pagar). Depois de 3 horas queimando, alguém da família segurando duas pequenas toras de bambu retira os restos mortais das cinzas e joga no rio. Dentro do rio alguns cachorros esperando o corpo ser arremessado. Meio nojento e assustador devo dizer. Mas com certeza foi incrível observar aquilo tudo, mesmo com todo mal estar que estar que eu estava sentido.



Vimos também o fogo de Shiva que está acesso á séculos.
Saímos andando pelas becos da cidade, que de acordo com minha, digamos, interessante visão, se parece com Veneza. Mas vai lá, pensa bem, Veneza no século 17 com mais vacas devia ser daquele jeito mesmo, cheia de becos e canais e sujaaaaa. Fizemos comprinhas, entramos num templo, observamos corpos passando e mais esquisitices de Varanasi, inclusive “mutantes”, coisas que só vendo pra saber, nem me arrisco a descrever. Por fim voltamos à guesthouse. Sobrevivi àquele dia e estava muito feliz de ter persistido em sair.
Mas tarde, ás 7 da noite fomos assitir o Puja, cerimônia que acontece todos os dias na beira do rio de manhã e a noite em homenagem à Ganges. Os brahmins, membros da casta sacerdotal, celebram a cerimônia cantando e fazendo movimento como objetos, alguns com chamas, já que o fogo é considerado sagrado e purificador.



Durante o puja fiz uma oferenda à Ganges pensando no meu irmão que se casaria no outro dia. Estava mandando boas vibrações praquele momento tão feliz na vida dele. Essa oferenda se parece com as oferendas pra Iemanjá. O difícil é tentar colocar o barquinho no rio sem enconstar na água. Argh!



Varanasi foi com certeza o pior lugar que já visitei, mas também um dos mais incríveis. Não sei bem dizer de onde vem o encantamento. Se há algo no ar, algo de sagrado que nos afeta mesmo não compartilhando da religião, se nos rendemos à curiosidade e ao absurdo, que na verdade é absurdo somente pra gente mesmo (tudo bem, vários indianos me perguntaram que diabos eu fui fazer lá, então acho que é absurdo pra eles também). Já tinha ouvido várias coisas sobre Varanasi, mas nada é suficiente para descrever. Verdadeiramente, ou você ama ou você odeia. A abertura deve ser enorme. A vontade de ver além exige muito esforço. Esforço totalmente válido e que deve ser praticado constantemente aqui.

A PLACE THAT HAS TO BE BELIEVED TO BE SEEN.

No outro dia, longo trem para Delhi e um pequeno incidente. Três mocinhas estrangeiras viajando sozinhas de trem durante o dia só podia dar merda. Estávamos viajando de classe sleeper. Daí eu subi pra cama mais alta pra ler um livro. Então a Babi me chama: Let´s olha isso! O trem estava parado e uns 20 homens do lado de fora olhando as duas. Dentro do vagão mais uns 20 sentados uns em cima dos outros olhando a gente porque as camas a nossa volta estavam vazias. Então sai pedindo ticket pra todos. Muitas vezes eles entram no trem sem ticket e sentam onde está vazio. Todos claro começaram a rir: Olha a firange falando com a gente em inglês hehehe. Ah é? Me aguarde. Lá sai eu atrás do controlador pra resolver a situação. Com muito custo ele chega no nosso vagão. Era neguinho voando pra tudo quanto é lado. O cara saiu xingando todo mundo e tirou de lá até quem tinha passagem. Passa um pouco e chega um policial: Problem madam? No problem. Me friend. Stay here. Kkkkk Dai sentaram 2 policiais com a gente com umas armas gigantes da época da invasão britânica eu acredito e ficaram lá um pouco para espantar os atrevidos. Dai uma família sentou com a gente e seguimos viagem mais tranqüilas.



Chegamos em Delhi e minha casa estava de cabeça pra baixo. Mil hóspedes, cozinha suja, internet sem funcionar. Eita é assim eu saio de casa por 2 semanas e ela quase vira de cabeça pra baixo. Tentei manter a calma, pois tinha visitas hehe.
No outro dia encontramos com parte da delegação brasileira e levei a galera pra fazer comprinhas. À noite fomos jantar em Old Delhi, idéia quase de jerico porque essa é a parte mulçumana da cidade e era época de Ramadã e, além disso, eram 6 horas. Totalmente de jerico. Porém logo a boa comida nos fez esquecer a fome negra e o perrengue que passamos nas ruas até chegar no restaurante.
Dia longo e no outro dia eu trabalhava. A mamata acabou. Teve bão. Mais uma grande aventura na Índia. Mais aprendizado. Muita história pra contar.
Me despedi de todos que seguiram para Agra. Um triste até logo. E espero que logo mesmo e agradecimento pela incrível compania.

Namastê!

domingo, 3 de outubro de 2010

Umas semaninhas de Folga - Capitulo 1 - IC

3 de Outubro – A chuva lavou a alma da Índia! Temperatura agradável e céu azul

Finalmente vou contar um pouco sobre as duas semanas de folga que tive do trabalho (dividirei em 2 capítulos). Nossa, depois de tanto correr, de tanto cansaço no trabalho finalmente consigo tirar alguns dias pra viajar (de forma diferente da usual com viagens corridas de final de semana). Alguns dias não, benditas duas semanas inteiras.
Primeiro destino Hyderabad para participar do Congresso Internacional da AIESEC. Depois de tanto esperar e pensar em como eu poderia participar, estava eu ali louca arrumando a mala para o evento. Dez dias de conferência com pessoas de 110 países diferentes. Não há outra palavra para descrever senão mágico. Além de vários encontros com pessoas novas tive vários reencontros maravilhosos. Babi, da AIESEC BH, atual presidente da @Bolivia, também participou do evento e by the way era minha chefinha de delegação. Tive uma vida tripla durante todo o evento. Era delegada da Bolívia, porém acabei um pouquinho delegada do Brasil também (se era pra dançar roll call, puxar grito e ficar com a galera lá estava eu, a saudade bateu mais forte), e também era parceira, pois estava representando a TCS (se era pra locomover de taxi, ficar no hotel no pré meeting e pegar red bull de graça era eu de parceira: - OC: - Why you don´t have a badge? Cara de pau: – I am a partner! OC: – Oh I am so sorry! Só na malandragem.
Cheguei em Hyderadad já virada (tinha ido numa pool party antes e cheguei em casa já só pegar a mala e ir pro aeroporto) e fui para o hotel onde o pré meeting estava acontecendo. Tava louca pra ver a Babi, que já estava na Índia há uns dias e encontrar outros amigos que conheci na aiesec por ai. Encontrei com o pessoal da TCS também e já comecei fazendo bons contatos. Acabei ficando no hotel e no dia seguinte fomos pro Taj, hotel onde a conferência aconteceria.



Na cerimônia de abertura conheci a delegação toda do Brasil. Todos ótimos e super acolhedores comigo que queria tanto ficar perto da brasilidade (ainda mais com a barra de talento e guaraná Antártica que a Babi trouxe pra mim). A cerimônia foi ótima e já mostrava um pouco de como o evento seria.



Me divertia com todos reclamando da pimenta. Já dizia a Babi: a pimenta acumula, ela é loucaaaa. Ficava pensando o tempo todo sobre o que os delegados estavam pensando da Índia. Cada hora acontecia uma coisa e o povo me olhava: Ah gente aqui na Índia é assim mesmo hehe. Enjoy!
Já nos primeiros dias estávamos focando a construção da visão 2015 da AIESEC. Tudo era sobre a visão. Momento muito importante, pois todos os 700 delegados que estavam lá construiriam juntos o caminho pelo qual a organização vai seguir pelos próximos 5 anos. Durante os 10 dias tivemos várias sessões super interessantes e tivemos acesso a ferramentas usadas por grandes empresas para construção de direcionamentos.
No meio de tanto construção, fazia umas das coisas que mais gosto de fazer: observar as pessoas. Estava num mar de diversidade constituído por 110 nacionalidades diferentes. Observava como falavam, como gesticulavam, como resolviam situações, como se cumprimentavam, como reagiam à Índia, e principalmente me maravilhava com a paz e igualdade de todos. Era brasileiro falando de futebol com argentino, paquistanês conversando com indiano, religiões diferentes juntas, mil perspectivas e todos ali com a mesma vontade de mudar, de agir de forma positiva no mundo. Mágico.
Resumindo a conferência posso dizer que ao ajudar na construção da visão 2015 construí muito para mim mesma. Sempre durantes as sessões éramos levados a pensar sobre nosso papel na organização e no mundo, sobre nosso futuro e nossa própria visão. Incrível como aprendi muito sobre mim mesma. Principalmente que sim Letícia se você comer carne de vaca agora vai ter má digestão. Ai fudeu!
Depois desses 10 dias mágicos, sobre os quais poderia ficar escrevendo horas, parti pra segunda parte da viagem.
Depois de tanto tempo tentando decidir pra onde ir…devolve passagem, procura passagem de avião, trem, camelo, ou qualquer coisa que mova, perdi sessão, olha mais opções, aff compramos tudo. Podemos relaxar. Saímos do Taj, eu Babi e Marina (da TCS) e fomos jantar com alguns trainees que moram em Hyderabad e com a Ale (minha nova e querida amiga que a Índia me deu). Saímos do luxo do Taj e voltamos a realidade dos trainees. Bom que fomos nos acostumando com o que nos esperava.

Próximo capítulo:
- vacas, rio, corpos
- uma experiência acima de palavras….

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Como ser um EP famoso

17 de Agosto – e as chuvas começam a tomar conta

Acho que o primeiro passo pra se tornar um EP (Exchange participant) é vir pra Ásia. Depois que Mari Moura saiu no jornal de Delhi e Lucas Lage saiu num Site sobre desing no Cazaquistão era minha vez de ter meus 15 minutos de fama.

Num belo final de semana que tinha tudo pra ser monótono as pessoas começaram a me notar. Recebi uns 3 convites diferentes e entre eles entrar para uma agência de modelos. Eu??? Modelo?? Sou tipo fora do padrão né? “Nada, bobagem! Você é alta, bonita, e que estrutura óssea de rosto…nossa!” Hum esse elogio só não foi mais estranho que meu médico (que fez minha cirurgia pra tirar minha bendita vesícula) dizendo que minha barriga era linda por dentro. Algumas pessoas são realmente estranhas.

Bem, já no mesmo suposto final de semana monótono eu tinha um casting marcado para uma propaganda. Daí eu amigo me liga chamando pra participar do casting. “Ai eu já to indo….te vejo lá.” Chego no lugar e umas pessoas tão fazendo prova de roupa e fotos. Como o comercial nem tinha falas (e eu seria figurante anyway) o casting era só de prova de roupa e teste de câmera que foi reduzido a uma foto. Eu nem fiz a foto, sei lá por que, mas pediram pra mandar depois. Ok. “Nossa que inicio!” Bem, uns dias depois o produtor me liga pedindo pra encontrar com os outros “atores/modelos” na agência. Ok mas eu trabalho amanhã meu querido. Ai já vai eu ligar pro meu chefinho na maior cara de pau depois de me aconselhar com algumas pessoas.

Chegando lá, entramos em dois carros e fomos pra locação. Um palácio bem do estilo indiano. Tava achando uma graça, eu sentada no carro, com meu MP3 olhando aquela paisagem da Índia que sempre me surpreende passando. Foi uma viagem super agradável. Chegamos, maquiagem, cabelo, roupa, assessórios, vai na estilista ver se ela aprova o look final e se prepara pra esperarrrrrr. Nossa e espera e espera. É noite e vamos gravar. No meio do dia fui entendendo a história do comercial que era de um refrescante bucal. Um cara fodão da Índia convidou o Embaixador da Rússia na Índia para a festa de ano novo. O Embaixador veio com esposa e suas sete filhas. Daí a gente tinha que gritar happy new year (antes com a contagem regressiva, começando do 3 graças a Deus). Foram em média uns 25 takes. “Lights please! Silence! Go sound! Role camera! Action! A sala estava sendo refrescada somente por 2 ventiladores de teto….aff tava quente não bobo. Pelo menos eu não estava de terno. Daí troca a posição da câmera, refaz as marcações (onde cada pessoa deve ficar) e Role camera, Happy New Year. Daí, troca de roupa, a família Russa toda troca de roupa e cabelo enquanto a gente, esperaaaa mais um pouco. No rádio “bring the russian daugthers!” Tudo era as tal das russian daugthers. Russian daugthers pra lá e pra cá. Descobri que se eu tivesse pintado meu cabelo de loiro como o produtor havia pedido eu seria uma das Russian daughters. Ia subir de status bruscamente, mas meu querido meu cabelo loiro? Ah tem limite hehe.



Daí mais alguns takes e dessa vez em outra festa e dizendo Happy New Day (o tchan da propaganda era dizer que todo dia era um happy new Day com pan masala). Olha vai ser brega assim aqui na Índia viu! Hehehe

Daí jantar, mais uns takes eeeee “it’s a wrap everybody”. Ai que beleza, vou pra casa. Já são 1 da manhã.

PS: o comercial ainda não foi ao ar!

Uns dias depois meu “agente” me liga porque precisamos marcar as datas pra fazer o book. Reunião com fotógrafo, escolhe a equipe (maquiador e estilista), fecha data. “Ai será que eu faço mesmo?” “Ai vamo que vamo, será no mínimo divertido.”



Doze horas de produção e fotos. Foram 6 looks. Faz a base da pele, lente de contato pra dar brilho, começam os looks. Alguém ai acha que vida de modelo é fácil? Aff. Uma vez que você entende o que o fotógrafo quer e acha a posição “don´t move!” só que aí cada foto precisa ser diferente. Olho apertado. Você lá naquela posição que parece tá horrível e ele falando que tá lindo. Mil flashs em segundos e você “Ai meu Deus.” Dai começam os gritos: “Shoulder down, chin out, chest up, abs in, look far, FAR, give me attitude, MORE ATTITUDE.” “Smile…..less….smile less…(ai eu já com nenhum sorriso no rosto, quase com cara de brava)…smile less. Eu nem podia mexer pra falar “Oh meu querido! Smile less????? “Smile with your eyes” “ah claro…simples….dã”. E Michelle lá, minha fiel escudeira e primeira fã, me dando suquinho e água...uma graça. Valeu!!!!



Ai começam os paparicos. Academia de graça. Já não pago mais nada em festa nenhuma, vou em festas e os fotógrafos tiram fotos (mais do que nas festas normais porque aqui toda festa tem fotógrafo perseguindo….um perigo). Tipo paparazzi. Uma piada. Foi assim por um tempo agora não mais tanto…ainda bem. Quando faço algum evento dá pra ver a nítida diferença entre ser modelo e melhor…ser modelo estrangeira. A gente faz o que quer, trabalha durante o evento fazendo o que quiser e quando quiser, enquanto as indianas ralam. Horrível. Ai fui ver que só fui chamada pra ser modelo porque sou estrangeira. Então, que eu não tenho de modelo eu tenho de status aqui na Índia. Estrangeiro, pelo simples fato de ser estrangeiro já tem status. É incrível ver como isso acontece. Alguns chegam a dizer que a Índia é dominada por mulheres estrangeiras hehe. Aqui é chique ser amigo de estrangeiro, sair com eles. Alguns restaurantes e baladas pagam pros estrangeiros freqüentarem seus estabelecimentos só pra dar mais status. Uma superficialidade que até me causa desconforto. Mas confesso que por enquanto dizer não ao bom e do melhor está sendo um pouco difícil. Aqui em Delhi as coisas funcionam assim então os trainees se juntam e freqüentam essas festas sempre juntos pra não causar problemas ou má reputação pra ninguém. Um mundinho meio bobo de vaidades. Mas bem, a gente se diverte de qualquer forma e é passageiro. Em outras cidades as coisas já não funcionam assim, mas terei que investigar mais de perto pra saber ao certo. Me parece que Delhi é realmente uma cidade de vaidades e aparências. Uma coisa meio falsa. Quero saber como é Mumbai, afinal Bolywood fica lá né?

Ainda não fiz muitos trabalhos impressos, mas quando algum material chegar nas minhas mãos (se chegar hehe) eu mando. Espero ter acesso ao comercial principalmente.

E quem sabe…bolywood que me aguarde.

domingo, 8 de agosto de 2010

A vida em Delhi

8 de Agosto - a chuva trás um pouco de normalidade pra temperatura

Percebi que meu blog virou um blog de viagens. Até parece que eu só faço isso aqui na India. Todo mundo sabe que eu adoro colocar o pé na estrada, mas aqui tô ralando bastante também, me adaptando a vida na India e vivendo umas coisas malucas de vez em sempre.
Aqui, por mais que sua vida normalize, sempre acontece algum inesperado. Na verdade acho que todo intercâmbio é assim. Enquanto estamos fora a gente se abre muito mais ao novo. O tempo é limitado e há de se aproveitar cada minuto. Porém nesse intercâmbio, acho que não passo um dia sem falar um “Ai meu Jesus Cristinho”, “Ai papai” ou quando o bicho pega “Ai minha Nossa Senhora da bicicletinha”. Ponho em ação quase todos meus jargões.
As pessoas do trabalho agora estão se acostumando com o fato de que eu escovo os dentes depois do almoço, que as vezes eu falo português no telefone, que pode tá o calor que for…eu não gosto de chuva, que eu como arroz com garfo e não com colher. E eu me acostumando que os homens não dão passagem pras mulheres, que algumas pessoas furam filam e que se você não tiver encostado na pessoa na sua frente você saiu da fila, que eles amam criquete e não futebol, que o prédio até mexe quando tem um…um…ah um gol de criquete hehe, que se você pede indicação de como chegar num lugar saindo do escritório alguém vai te dar uma carona.
Com relação a cidade eu me acostumei que tem buzina toda hora (as vezes nem escuto mais), que os indianos gostam de entrar e sair do ônibus em movimento (se o ônibus esta parado no ponto eles esperar arrancar pra entrar), que eles adoram andar pendurados, que e possível andar de scooter com 5 homens montados, que Sarojini market e uma loucura mais eu adoro, que Pahar Ganj markert é pior, mas eu adoro, que eles mascam tabaco e cospem na rua (fica tudo colorido de marrom…ecaaa), que tem vaca pra todo lado, que Old Delhi me da dor de cabeça, mas nossa que lugar louco de ir, que o mundo vai acabar em poeira, que é possível ser espertalhão e bondoso e generoso ao mesmo tempo, que os motoristas de rickshaw não sabem o caminho (mas Rasta pata re, bhaya! Eu sei o caminho amigo!), que quem sabe negociar tem o custo de vida reduzido nesse pais, que atravessar a rua é uma aventura, que deve ter alguma coisa do além me protegendo (só pode).




Aqui no trabalho as coisas vão bem. Tô aprendendo e ganhando a confiança do meu chefe. Agora é hora de analisar as possibilidades que me foram apresentadas. Como será o fim do meu intercâmbio? Pelo andar da carruagem diferente do planejado, mas poxa eu gostava tanto do meu plano. Ficarei em Delhi? (o caos, mas eu adoro e quem fala mal leva uma puxada de orelha minha), mudarei pra Mumbai? Volto pra Brasil no momento previsto? Vou pra outro país? Aff sei lá….
Uma amiga estava me falando sobre coisas da vida e disse que dá pra dividir as nossas questões em dois círculos: circles of influence and circles of concern. O circle of influence permitem ação da nossa parte. Se você quer algo vai lá e mexe seus pauzinhos. No circle of concern não adianta meter o bedelho, e aquele ponto em que você fez o que podia, mas ai tem eu deixar rolar. O destino fará o resto. Ok, mas será que dá pra me fazer ficar menos ansiosa? Nem na India eu aprendi a ser calma, relaxada, desisto.
Mais ainda termino esse post com fé no que vou dizer:
Let it be!!!!!
Seja bravo e nunca fuja das oportunidades……

terça-feira, 29 de junho de 2010

Rishikesh

29 de Junho - Calorrrrrrr

Nossa depois de uma mega sumida estou de volta. E estou aqui porque depois de uma longa pausa coloquei o pé na estrada de novo. Eu disse que não viajaria durante o verão porque simplesmente é quente demais pra ficar turistando por ai ou enfrentar um deslocamento grande. E de fato ficou muito quente. Uma semana em especial quando a temperatura chegou a 50 graus aqui em Delhi. O governo mente sobre a temperatura e não deixa anunciar que chegou a 50, porque aí os serviços são obrigados a fechar. Os anúncios só vão até 49....nossa grande diferença. Foi muito interessante ver que ainda há vida depois dos 50 graus hehehe. Porém, eu ainda tenho dúvidas sobre a sobrevivência da população do Rajastão.

Durante esse tempo tenho tentado escrever sobre a vida em Delhi, mas é tanto coisa...tantos assuntos...e o tempo tão curto que nossa...sumi mesmo.

Bem, era uma bela quinta feira e o calor tava diminuindo (um belo dia de manha a temperatura diminui tipo 20 graus....doidera) e Luis me diz que estão indo viajar na sexta. "Ah mas poxa nem me avisaram." "Uai vamos também" Arrumaram um lugar pra mim e fomos eu, Luis, Rodolfo e Michelle.

Era uma viagem pra Rishikesh organizada pelos trainees da aiesec. A primeira vez que ouvi torci o nariz. Eu e mais 26 indo viajar...vai dar confusão...gente demais. Mas resolvi ir assim mesmo. Eu não ia ter que organizar nada, a galera era ótima e já tinha uma programação...só um final de semana.

Partimos num ônibus com ar condicionado, que porém, não muito cabia a minha pequena pessoa. Os europeus estavam se divertindo com o aperto também. A idéia era ir pra um acampamento que fica um pouco afastado da cidade e curtir a natureza. No caminho a doida da Michels começou a fuxicar na enorme bolsa: "Quer água Leticia?" "Não valeu Michels". Quer biscoito?" "Não. Brigadinha". "Quer chocolate?" E eu impressionantemente disse "Ah não valeu". "Quer um bindi (terceiro olho)?" "Nossa ai agora sim....por que como eu ia sobreviver a essa viagem sem um bindi?" kkkkk. Mas era melhor fechar a bolsa logo. Sabe-se lá o que mais ia sair de lá hehe.




Chegamos pela manha e tínhamos que descer uma ladeira de pedras. Desci, desci, desci. "Gente cadê esse trem?" Chegamos lá e me senti no filme "A Praia" hehehe. Estávamos só nós lá excluídos da sociedade hehe. O acampamento ficava numa "praia" do Rio Ganges. É gente nadei no Ganges. Mas não se preocupem que estávamos na nascente do rio. Eu ainda estou bem.




As barracas estavam no chão porque rolou uma chuva sinistra no dia anterior. "Ai meu Jesus Cristinho, não vai me inventar de chover de novo." Café da manha, barracas montadas e divididas. Até que as barracas eram boas...tinha até cama e saco de dormir da North Face. Perguntamos pra um cara onde era o banheiro e ele riu da gente. "É Michels deve ser a segunda árvore a direita mesmo." Mas depois vimos que ele não entendeu o que a gente perguntava porque no fim montaram um banheiro legalzinho.

Durante a manhã ficamos lá jogando vôlei e nadando no rio. Correnteza sinistra. Mais tarde um pouco partimos pro rafting. Fomos de ônibus até o local e saimos em 4 botes. Eu fiquei no singing boat. A gente cantava o tempo inteiro...até que o guia do barco pedia pra gente ficar calado. Quando a correnteza aumentava e a gente chegava perto de corredeira precisávamos escutar os comandos. FORWARD, HARD FORWARD, BACK PEDAL, RELAX.....odeio back pedal...Esse rafting foi beeem mais legal que em Manali. Umas das corredeiras era nível 3...dai da uma emoçãozinha e aquele: "Ai minha nossa senhora da bicicletinha agora eu caio." No fim o guia começou a cantar com a gente. Estávamos chegando perto de uma corredeira e ele se levantou...eu me virei pra ver porque ele tinha parado de cantar. Dai ele faz uma cara, senta, pega o remo e grita: FORWARD, FORWARD, HARD FORWARD. "Ai meu deus ferrou tudo agora." E a gente se aproximando das pedras...não sei como não batemos hora nenhuma. Mas ficou tudo bem. No meio do rafting de 3 horas paramos numas pedras. Tava todo mundo subindo pra pular no rio e lá vai eu atrás. Quando cheguei lá em cima fui me dar conta de como era alto. "O que eu vim fazer aqui mesmo?" Respirei fundo e pulei. No final o guia deixou a gente pular numa corredeira nível 1 e fomos levados pela águas....tudo com o bote do lado claro.




Voltamos pro acampamento...almoço...cochilo...jogo de futebol (seria desastre de futebol)...banho....ligando lamparinas e churrasco Indiano. Ai adoooooro churrasco indiano...tenho que aprender a fazer. Tá que poderia ter uma picanha e tal, mas não...só frango e paneer. Deliciaaaa. Dai depois de comer muito o cara do acampamento fala: "ok vou trazer o jantar." Nossa só os leitão né? Nem aguentei comer e fui direto pra sobremesa. Dai rodinha da galera, música, pedidos pra eu imitar a Shakira...vixi mas depois daquele churras tava foda. E eu lá rodeada de colombianas. Num final de semana com tanta gente de países diferentes pude ver realmente como e a fama das brasileiras, somos festeiras, bonitas, ótimas dançarinas, pulamos carnaval de biquíni...e bem por ai vai abaixo hehe...hummm

No outro dia, passamos a manhã no acampamento aproveitando o rio. A tarde seguimos pra cidade pra almoçar e conhecer um pouco. Não fosse o engarrafamento tava tudo bem, mas chegamos lá e tínhamos uma hora e meia pra achar um restaurante e voltar. Tarefa difícil. Dai saio eu na frente perguntando geral hehe. Uma pena que não tivemos tempo pra ver a cidade. Rishikesh é uma cidade sagrada para os hindus porque é banhada pelo Ganges e foi local de batalhas entre deuses. É conhecida hoje como a capital da yoga. Então ainda volto lá só para viver o lado espiritual da cidade. Quero ficar numa Ashram e praticar muita yoga, meditação, ver os rituais que acontecem todos os dias. Não vejo a hora.




Mas dessa vez, comemos correndo e de volta pro ônibus apertado. A gringaiada toda com rap das armas na cabeça: Parapa papapa ehehe. Fizemos um vídeo da francesa cantando...peça rara. Depois da cantoria dormi que nem um bebe...tava morta.

Dai eu pensei...Por que eu parei de viajar mesmo?

Mês de Julho que me aguarde.

sábado, 1 de maio de 2010

Imagens pra que te quero

1 maio - pós aniversário....problema de ar condicionado resolvido...Deus é pai!

No próximo post conto sobre as 3 festa de aniersário, algumas indian style, que tive. Estou esperando para receber as fotos e postar aqui.

Por enquanto ai vai o link da minha página no youtube. Vários videos que fiz pelas minhas andanças com o Lucas. Pra quem não leu...dá uma olhada nos posts anteriores com o titulo caminho da indias aieseca pra entender melhor.

http://www.youtube.com/results?search_query=leticiagmaia85&aq=f

Namaste

terça-feira, 20 de abril de 2010

Calmaria

short, blusa, ar condicionado quando dá (quando ligamos os 3 a luz cai...isso não é glamour)

Menos viagens, mais trabalho, muito calor, uma vontade imensa de não fazer absolutamente nada no domingo. Nada mesmo. Nem comprinhas, nem turistada, no máximo passeio no parque e cineminha. Mais calma, à procura do centro.

O que está na minha cabeça agora?

Você foi!
O maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci
Você foi!
Dos amores que eu tive
O mais complicado
E o mais simples prá mim...

Você foi!
O melhor dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade
Faz lembrar
De tudo outra vez...

Você foi!
A mentira sincera
Brincadeira mais séria
Que me aconteceu
Você foi!
O caso mais antigo
E o amor mais amigo
Que me apareceu...

Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez...

Me esqueci!
De tentar te esquecer
Resolvi!
Te querer, por querer
Decidi te lembrar
Quantas vezes
Eu tenha vontade
Sem nada perder...

Ah!
Você foi!
Toda a felicidade
Você foi a maldade
Que só me fez bem
Você foi!
O melhor dos meus planos
E o maior dos enganos
Que eu pude fazer...

Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez....

Alguém guenta? kkkkkk Roberto Carlos? Ah mas eu confesso que acho lindo. Deve ser minha mãe soprando no meu ouvido.

E eu continuo aqui nessa Incredible India, fazendo planos de me enganar, enganos de me encontrar e estradas de me perder. (Sabiá - Chico Buarque)

Prometo que vou arrumar uma confusão semana que vem só pra contar aqui.

Namastê!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mais perto do céu

14 de Abril - Short, blusa e ar condicionado comendo solto

Feriado a vista, planos traçados. Virei mãe e guia turística hehe. No primeiro final de semana de Abril fomos pra Manali. Tipo de lugar que nunca pensei ver por aqui. Em se tratando de Índia acho que nosso imaginário sempre será ignorante. Depois de visitar cidades no deserto, cidades enormes e insanas, planejar idas pras praias do sul, cá estava eu indo pras montanhas geladas. Sai do calorzão de Delhi e fui pros pés congelantes dos Himalaias. Lugar simplesmente fascinante. Montanhas enormes com neve no pico, céu azul, lindo, ar puro, cachoeiras, natureza fantástica. Com certeza mais pertinho do céu.
Partimos na quinta à tarde. Saí do trabalho e fui pra parada do ônibus (aqui não tem rodoviária direito) de metro com o Niels. No caminho o resto do povo liga dizendo que os rickshaws entraram de greve e tava difícil de chegar. O governo de Delhi pretende acabar com o transporte privado (rickshaws no meio), dai nossos bahyas motoristas resolveram mostrar que são necessários. Vixi nem vi a cidade direito, mas deve ter sido um caos. Hora do ônibus partir, aflição, mas todos a bordo. Incredible India, you just have to try harder - esse é meu novo lema.
No caminho as 14 horas de viagens foram interrompidas por um jacu sem nada pra fazer que jogou uma pedra na janela do ônibus. Isso nos atrasou duas horas. Um tanto de indiano tentando arrumar uma gambiarra pra podermos continuar a viagem. Eu me segurando pra não dar palpite. Resolvi dormir. Acordei em Manali. Desci do ônibus e senti a força da altitude. Achei que não ia sentir, a cidade não é tão alta, mas lá estava eu brigando com um motorista pra levar a gente pela metade do preço que ele queria cobrar e fica tudo preto. Uiui vamos respeitar as montanhas.
Fomos direto pra uma agência de um francês gente boa. Já tava tudo quase no esquema, só faltava escolher as atividades e pechinchar o preço. Tudo certo! A aventura começa.
Primeiro dia rafting. Fomos de jeep pro rio. Cidade cheia de jeeps acelerando e passando marcha pra lá e pra cá...ai adoooro o barulho (cada um com suas esquisitices). No caminho queixos caídos. Não importava quantas vezes a gente passasse no mesmo lugar a reação era a mesma. Contemplação total. Silêncio. Era só entrar num carro que todo mundo ficava calado. Acho que a paisagem e a música tibetana de fundo nos levava pensar na vida. Além disso, meu pensamento tava longe aquele final de semana. Era roubado com facilidade. Respira fundo. Mas ai desce do carro e a falação começava de novo. A Ellen se encarregava de 90%. Se alguém acha que eu falo muito, pois é a Ellen fala mais. Começamos a descer as corredeiras. Todos marinheiros de primeira viagem. Fui logo pegando um remo e vamo que vamo. Água incrivelmente gelada. Mesmo assim o guia do bote conseguiu nos convencer de pular. Culpa da minha empolgação. Achei que ia virar pedra. Gelado, mas revigorante. Depois remava que nem uma louca pra ver se esquentava. Mais corredeiras e saímos de rio. Minha brasilidade não deixou nenhuma roupa impermeável passar dos quadris, então tava toda ensopada e ainda ia demorar uns 20 min de jeep pra voltar. Uiui. Chai antes de voltar pro hotel. Chai na chegada. Banho quente. Tava nova.
Segunda dia. O mais esperado. Fomos voar de paraglider. Mais voltinha de jeep e pensamentos furtivos que logo foram levados a realidade de novo. A gente ia ter que escalar a montanha pra chegar na plataforma. Os guias que sobem todos os dias umas 5 veses naquela velocidade e a gente só na falta de ar. Chegamos e todo mundo passando a vez pro outro. O que??? Ninguém quer ir eu vou primeiro demaissss. Equipamento. Corre um pouquinho e relaxa. Depois de ver a vista por baixo de dentro do rio, agora a visão maravilhosa de cima. Claro que minha câmera quase caiu lá de cima. Pousei estrategicamente sentada em cima de um barranco kkkk. E fiquei sentada olhando os outros saltarem. Recomendo vôo livre. Bom demais. Na próxima quero saltar de pára-quedas.






Voltamos pro hotel e fui dar uma volta na cidade. Super pequena e com umas casinhas super interessantes. Muitas vacas presas na frente da casa como se fossem carros estacionados. Uma tinha acabado de parir. Fui olhar o bezerrinho que não parecia estar bem e quase levei uma chifrada. A vaca ficou me olhando e mugindo ate que eu sai de lá. Medo hehe. À noite jantarzinho chique. Delicioso. Final de noite na varanda do quarto aprendendo sobre as estrelas que quase não consigo ver daqui. Som do rio de fundo. Perfeito.




Terceiro dia trekking. Lá se vamos nos pras montanhas. Duas israelenses e uma alemã se juntaram ao grupo. Ai nem preciso falar mais da paisagem maravilhosa. Milhões de fotos. Passamos por umas vilas construídas há uns 500 anos atrás. Enorme sensação de que aquele povo ainda vive como na época do inicio da vila. Mais vaquinhas. Crianças encantadas com os turistas e nos encantados com elas. Durante a caminhada, como não dava pra falar (falta de ar por causa do super preparo físico) comecei a pensar na vida daquele povo. Sem mordomias, numa simplicidade enorme, sem celular, sem televisão, internet, sem carne, sem muitos doces, sem vícios, tranqüilidade, o tempo parece que passa diferente. Acho que não conseguiria viver naquela vilazinha, mas com certeza sai de lá querendo mais equilíbrio.



Sobe montanha. No fim da caminhado uma chuva fininha se aproximou levando o sol. O frio começou a apertar. Nem fomos pra ultima parte do trekking. Tava até doendo pra respirar de tão frio. Mais chai. As israelenses nos contaram que faziam parte do exército. Em Israel o serviço militar e obrigatório a todos. 2 anos para mulheres e 3 para homens. Muitos resolviam continuar e entrar pro exército de vez. Elas disseram que o serviço deve sim ser obrigatório porque é muito importante saber lidar com as inúmeras situações que eles enfrentam todos os dias. Fiquei pensando como e viver num país não pacifico, apesar de que em muitos lugares do Brasil não estamos longe da violência. Era intrigante ver como elas falavam do exército e dos ensinamentos. Aquilo pra elas era como a religião. Forte. Bonito por ver a devoção pelo pais e pelo povo. Triste por pensar na violência e no pensamento fechado em que elas pareciam viver.
O jeep chegou e nosso ultimo passeio no silencio. Fomos pegar nossas malas e direto para o ônibus. Atrasadinhos. Oops. No meio daquele tanto de ônibus e a gente tentando achar o nosso. Lá estava ele com uma gambiarra melhorada na janela quebrada. Não concertaram hehe. 14 horas de volta a Delhi. Sono pesado, corpo cansado, mente limpa, olhos encantados, coração acelerado.
Dessa vez tive que ir direto por trabalho.

Assim como o Brasil agora acho que a Índia é abençoada por Deus e bonita por natureza. Mas que beleza. Ok podia ser menos louca e menos empoeirada aqui pros meus lados. Que bom que sempre podemos dar uma escapadinha.

Caminho da Indias versão aieseca - Cap 3

14 de abril – short, camiseta, ar condicionado (post mega atrasadoooo)

Mudei de casa! Agora to chique toda trabalhada no ar gelado….

Capitulo 3 - Agra e o Taj famtasmagórico

Na quarta feira chegamos de Khajuraho de manhã, trabalhei durante o dia e fomos pra Agra a noite. Agra é a cidade do Taj Mahal e eu queria porque queira ver o nascer do sol lá, por isso fomos a noite. Além disso, durante o dia aqui já tá muito quente e andar sem sapato no mármore branco nem rola (putz chegamos lá e tinha uma meia pra colocar por cima do sapato…nem precisava tirar hehe).
Dessa vez a Jane, a boneca russa que divide quarto comigo agora, foi com a gente. Pegamos o trem. Novamente classe sleeper porque era o único vagão com lugar sobrando. O Lucas já acostumado e a Jane horrorizada. Hehe. A viagem que deveria durar 3 horas durou 5. O trem parava toda hora e a gente naquela impaciência. Mesmo sendo sleeper não deu pra deitar. Ficamos sentados naquele conforto no maior papo russo. Aos poucos nos rendemos aos olhos pesados. E chegamos em Agra. 3 da manhça. Ah pra onde vamos. Ficar na estação é que não rola. Vamos pro hotel mais chique daqui (da rede The Taj que pertence a Tata) e vamos ficar de bobos no lobby, dai tomamos um café e pronto. Nada bobo. O The Taj não permite entrada a noite. Aff. Depois de rodar horrores com o rickshaw perdido entrei num hotel com todo meu charme kkkk (vi que não ia rolar de simplesmente aparecer lá porque o lobby tava as moscas. Pedi encarecidamente pro recepcionista deixar a gente ficar. “Mas moço eu não tenho pra onde ir.” Quase que uma lágrima de crocodilo cai. Ele deixou. Quando fui chamar os outros dois vi que cada sofá do lobby tinha um funcionário dormindo kkk. A beleza então a gente se mistura. Cochilada. Acordamos as 5 da matina, trocamos dinheiro e rumo ao Taj Mahal. O recepcionista disse que dava pra ir a pé. Tipo 20 minutos. Conseguir um rickshaw ali não era opção, então a pé fomos. Uma escuridão danada e a gente fingindo que não tava com medo. Mas parecia ser seguro. Era uma base militar. Passamos um parque a mil por hora.. Chegamos no portão em 5 minutos. Primeiros da fila. Compramos o ingresso e outra fila . Acertamos o guia que no final era um pé no saco hehe. Acho que no Taj não precisa de guia não. Leia que é uma tumba que o príncipe Shah Jahan construiu para a princesa Mumtaz como disse Jorge Ben Jor. E que foi construído em 22 anos. Foi muito rápido.
Passamos o portão e o guia resolver explicar umas coisas do lado de for a. Nem moço quero ver o Taj agora que esse sol já tá saindo. Quando passamos pelo segundo portão lá está ele. Como tava amanhecendo tinha uma neblinasinha de leve. O taj ficou parecendo um fantasma flutuando. Lindo demais. À medida que fomos andando ele foi se “materializando”. Mais lindo ainda. À medida que o sol ia subindo a cor do Taj ia mudando. O guia falando e a gente nem prestava atenção. Fotos e mais fotos. Tinha que ter a foto perfeita no Taj já que não tive na Torre Eiffel hehe. Fomos aproximando. Fotos. Fotos. Entramos com a meinha bonita que deram pra gente. Por dentro lindo também. A réplica dos túmulos (Shah Jahan por fim foi enterrado lá também) e uma decoração linda de flores feitas com lascas de pedras. Cada uma de um país. Fotos e mais Fotos. E saímos. Valeu a pena a madrugada acordada e a crocodilagem no hotel. O Taj é lindo mesmo.





Dispensamos o guia e fomos tomar café da manha. Depois entramos numa lojinha meio sem querer, que vendia prata. O vendedor com todos os fusíveis queimados de haxixe kkkk. Uma peçaa rara que só. Sentamos lá e batemos o maior papo com ele. Compramos tudo que a gente precisava. De prata a papel higiênico e fomos pro Agra Fort. A essa altura o sol já tava de rachar e a energia foi só baixando. Rodamos o forte mais ou menos. Fazendo filmes e a Jane achando graça da gente. Mil fotos depois. Resolvemos ir embora. Só um pequeno detalhe. Ainda faltavam umas 6 horas pro trem sair hehe. Fomos pra um hotel e subimos pro restaurante. Vamos almoçar aqui por 6 horas hehe. Almoçamos e descemos pro lobby. “vai gente, faz cara de quem sabe o que tá fazendo. Se mistura nos hospedes ai.” Dai a pouco tivemos a brilhante idéia de tentar adiantar o trem. Fomos pra estação. Aff que ingenuidade. Já tava tudo lotado. E agora. Voltar pro hotel é que não rola. Pizza Hut então. Limonada, cerveja, sorvete. 3 horas sentados hehe. Comemoração de aniversário. Funcionários dançando. Sono pedindo pelo amor de Deus. Ok vamos voltar pro hotel. Na maior cara de pau. Sentamos junto com os hóspedes que estavam esperando o ônibus deles chegar. Detalhe eles estavam lá desde a primeira vez que entramos no hotel hehe. Cochilada boa e de volta a estação. Dessa vez a classe era sitting. Fiz tudo errado. Peguei sleeper na ida e sitting na volta. A gente naquele sono. Só batendo cabeça. Dessa vez eu tinha certeza que uma galinha ia aparecer. Tinha uma família nos bancos do lado e no da frente. Ah que delicia…todo mundo embolado e a gente no meio hehe. Mas no fundo foi bonito ver a família. Eles ficam todos juntos. Primos, tios, irmãos, pai, mãe. Todo mundo feliz mesmo naquele perrengue todo. Bonito de ver, mas dai a ficar feliz também... Feliz e minha cama agora meu bem.
O trem chegou na hora. Eta felicidade. Mas quando eu cheguei em casa tinha 250 mil pessoas lá. Além dos 7 que iriam se mudar pro ap novo estavam o louco do Yoshi que, mesmo depois de conseguir um ap pra ele vai lá pra casa todo dia pra usar a internet e as vezes morre no sofá, a Janice também tava esperando arrumar um lugar pra morar e a aiesec, mesmo sabendo que nos mudaríamos em 1 semana mandou dois irmãos do Cazaquistão. Super lotação. Mas ok eu tava um caco tomei banho e fui dormir No outro dia labuta.. O Lucas saiu pra encontrar com a Mari. E Todo mundo saiu pra uma festa. Ficamos eu e Jane zumbizando.
Sexta à noite baladinha. Sábado compras insanas. Eu já não tinha mais dinheiro. Final do mês é foda. Mas o Lucas tava desenfreado. Entre em loja e sai de loja. Troca dolar. Loja de saree. Paraíso de bolsas. Pulseiras. Acabei comprando uma coisinhas também.
Ai hora triste de dar tchau. Osso, mas fazer o que? A semana acabou.
Viagem maravilhosa que só uma boa companhia pode dar. Lugares e perrengues incríveis que só a Índia pode proporcionar.

Realmente Incredible India !!!!

Saudades Biotch!!!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Caminho das Indias versão aieseca Cap - 2

31 de março – short , camiseta, ventilador

Parabénssss Vivizoca, tuudo de bom pra você. Felicidades mil. Um mochilão na Ásia e um carnaval na Bahia. Saudadesssss de você.

Capitulo 2 – A saga de Khajuraho

Chegamos na estação de Delhi pra pegar o trem pra Khajuraho, que é a cidade dos templos do Kama Sutra. O trem daquele jeito indiano de ser. E eu tenho que parar de ser pão dura e viajar numa classe melhor. Fomos de sleeper. São seis camas por cabine que nem tem porta hehe. Acho de boa na verdade, mas no fundo é meio tosco. O Lucas ficou meio assustado, mas se adaptou bem. Dormimos as 12 horas de viagem. Pertinho hehe. Chegamos lá e um motorista de richshaw do hotel que eu tinha reservado por telefone no trem foi buscar a gente. Dai virou nosso motorista oficial. Lucas virou meu marido pra evitar maiores confusões, tipo nos dois no mesmo quarto.
Fomos a caça de um restaurante pro café da manha. Fomos pra um que a mesa era numa árvore. Mas aff tinha que pagar 100 rúpias pra sentar na mesa. Tiramos foto só…tá ótimo. 100 rúpias é o preço do café da manha uai hehe. Depois da dificuldade de comprar meu ticket indiano pros templos e da barganha com o guia, entramos no grupo oeste. Muito legal. Os templos são lindos e todos trabalhados. Por fora e por dentro as paredes são esculpidas com estátuas. Algumas com posições do Kama Sutra. Algumas contavam histórias e mostravam símbolos sobre a tentativa de controlar os desejos. Esses templos foram construídos não por perversão e oba oba vamos aprender posições diferentes. Na verdade foram feitos pra controlar a putaria da época. A intenção da construção dos templos era transformar o sexo e os ensinamentos do Tantra em algo sagrado e que exigisse respeito. Se funcionou não sei. Agora sei que não funciona. Todo mundo pensa em kama Sutra e oba oba juntos hehe. Agora convenhamos tem umas posições que não dá não viu? kkkk. Só depois de muita yoga e depois de ter usado muito banheiro indiano pra conseguir dobrar os joelhos daquele jeito. Recomendo pegar um guia, porque as esculturas tem vários segredinhos que renderam boas piadas internas depois. A gente só querendo se jogar na boca do dragão.



Ardendo no calor fomos tomar uma cerveja e almoçar. Até eu me rendi num copo de cerva gelada. Por causa do calor e da fome já foi suficiente pra ficar altinha. Pra voltar pro hotel tínhamos que passar no mercado. Como a cidade tava vazia éramos atacados pelos lojistas. Jesus. Comprinhas. Mandei fazer umas calças. E fomos ver o por do sol nos templos do sul. O desespero foi tanto que saímos cedo demais e acabamos voltando pro hotel antes do por do sol, que foi visto no terraço do restaurante. Bonito também. Fomos assistir a um show de dança dos locais. Muito bonito. Roupas coloridas. Seis tipos de dança. Jantar e cama. No outro dia a gente madrugaria pra fazer aula de yoga.
Fomos pra uma ashram fazer aula de yoga e sai de lá querendo matar o yogi hehe. Chato. Dai fomos ver uma reserva ecológica com cachoeiras. Mas como estamos na seca a cachu também tava seca. Aff e claro que o motorista não avisou. Anyway o lugar era lindo e vimos os cânions com uma água chamando a gente pra nadar. Mas é proibido. Aff. Fizemos um safari de rickshaw e vimos alguns animais. E voltamos pra cidade naquela fome negra já pensando no pedido.
Chegando lá o motorista disse que o ônibus não viria naquele dia. Pra voltar de Khajuraho temos que pegar um ônibus até Jhansi, que supostamente sai de hora em hora, e de Jhansi um trem pra Delhi (passagem já comprada e compromisso de trabalhar no outro dia). Então resolvemos ir de trem pra Jhansi. “But you have to go now” Sem almoço???? O cara do hotel fez um sanduíches pra gente enrolados no jornal. Ai minha nossa senhora da bactéria. Compramos o ticket do trem e sentamos na farofada do almoço. Dai lá vem o motorista de novo. “Lucas se ele pedir mais dinheiro eu vou bater nele.” Que injustiça. Ele veio avisar que o trem iria atrasar muito. Eh laia. Dai devolvemos a passagem e fomos pra estrada pegar o primeiro ônibus que passasse. Pegamos um pra Chatapur. Aquele ônibus indiano no esquema. Nem lugar pra sentar tinha, mas logo conseguimos. Tava sentada naquele calor com a mala no colo esperando uma galinha voar na minha cabeça a qualquer momento. A cada ponto que parava eu gritava Chatapur???? Não ainda não. Chegamos lá e saímos no desespero pra pegar o ônibus pra Jhansi. Os motoristas de ônibus sempre gritam seu destino ai logo achamos o de Jhansi. Um ônibus melhorzinho, mas ainda estilo shity bus, com música ambiente kkkkk. O motorista louco de pedra. Buzina louca que tocava toda hora. A gente no sol dormindo não sei como kkkk. Fomos pra essência da Índia. Viajamos como mochileiros tradicionais hehe. Só na aventura. Todo mundo olhando a gente. Estrangeiro não deve passar nessas cidadezinhas e muito menos pegar esse ônibus. Além disso a gente tava filmando tudo. Mas todo bem eu tava com meu marido. Tava segura. Ou talvez ele tivesse seguro hehe.





Chegamos em Jhansi 4 horas antes do trem sair. Fomos pro melhor restaurante da cidade e comemos como reis.” Moço liga esse ar pelo amor de Ganesha” “Hum mas ainda faltam 2 horas.” O povo do restaurante achando estranho. Por fim resolveram trazer a conta sem a gente pedir. Pedimos sorvete e o cara adicionou na conta ali mesmo hehe. Terminamos e eles olhando com cara feia. “Aff tá bom vamos embora.” Fomos pra estação e ficamos sentados lá..naquela beleza, só na mosquitada. Dai vimos uma vaca na plataforma. “Como esse bicho veio parar aqui? Tipo desceu a escada kkkkk?” De repente a vaca some. Eu hein??? O trem chegou bem adiantado e saímos como loucos tentando achar o condutor pra ver se rolava um upgrade na passagem. A gente merecia um sleeper com ar condicionado depois daquela aventura. Conseguimos. O trem tinha até roupa de cama cheirosa. Ninguém gritando chaiiieeeeeeeeeee. Uma beleza.
Chegamos em Delhi, duas horas de sono. Banho e trabalho. Força na peruca.
Essa foi a viagem mais louca de todos os tempos. Me lembrou a @BH inventando historias numa van nas estradas uruguaias. Vai jamão ai gente? Eeeee adoro uma farofa.

Cenas do próximo capítulo:
- Na madrugada indo pra Agra
- O Taj Mahal
- Aprenda a ser cara de pau

terça-feira, 30 de março de 2010

Caminho da Indias versão aieseca - Cap 1

30 de Março – short, camiseta e ventilador

Semana passada recebi a visita ilustríssima do Lucas Lage, exchange partipant (EP) da AIESEC BH no Cazaquistão. Tava aguardando ansiosa. Roteiro: Delhi, Khajuraho e Agra. Três dias de folga eta beleza. E vamo que vamo.

Devo dizer que essa visita rendeu uma novela…então vou ter que dividir hehe.

Capitulo 1 – A chegada

Mari Moura, EP de BH também, passou lá em casa com seu motorista de taxi de sempre. Finalmente conheci o famoso Manish. Depois de tempos sem ver a Mari fomos no maior papo e na maior ansiedade porque o trânsito tava caótico e já estávamos atrasadas (isso porque era 22:00). Chegamos no aeroporto e claro o vôo tava atrasado. Atrasa mais um pouquinho. Meu olho começou a dar uma alergia sinistra. Pinga colírio. Faz piquenique no banco do aeroporto, farofada de leve. O avião aterrissa. “Oh esse povo tá branco, deve ser do Cazaca”. Eis que chega o Lucas todo trabalhado no inverno (gíria nova dele). Ele saiu da neve e dos -5 e foi pros 200 graus de Delhi. Fotinhas. Taxi. Sacola do duty free com champanhe. Tava quente, mas a gente resolveu beber assim mesmo. Estávamos a caminho de uma festa. “Lucas você não vai me estourar essa champanhe no carro.” “Calma fia eu tenho a manha”. Puxa daqui puxa de lá..bum e depois um BUM mais forte. Empurrão forte. Oops batemos o carro. Olho pra trás e vejo um ônibus. “Ai minha nossa senhora da bicicletinha o trem foi grave, batemos num ônibus, morri e nem senti, toda concentrada na champanhe. Teve bão.




Mas ai vi que era uma moto que tinha batido. Motoqueiro bem. Moto destruída. Carro amassado. Polícia chega. Três estrangeiros bebendo no carro. “Esconde essa champanhe.” Propina pro policial deixar o Manish ir. Festaaaa. Bom claro que a gente perdeu horrores. E festaaaaa. Uma das festas mais legais que fui aqui em Delhi. Despedida de uns trainees na farmhouse de um DJ amigo nosso. Sinistro. Muita música. Guerra de água. Cabelo que eu tinha acabado de cortar ficou lindooo hehe. Quando fomos embora pensei. “ É..essa semana promete. O menino já chegou causando acidentes hehe”



Voltamos pra casa de manhã. A Mari voltou pra Gurgaon. Tipo Contagem daqui. Poucas horas de sono e turistada em Delhi. Calor da moléstia. Litros e litros de água, as vezes refri porque não dá pra confiar em qualquer água. Picolé pra gente ser feliz. Eu só na barganha com os motoristas de rickshaw e o Lucas rachando de rir da minha performance. Poxa mas diz ai…eu sou boa tá? E falo que nem todo trainee fala. Cada vez que eu combinava o preço era um vídeo e ele rindo no fundo acabando com minha concentração e cara de brava. “Bhaya I live here. I know the price. Good for you. Good for me.” Kkkk Aquele inglês macarrônico. Se você é turista e paga o dobro ok. Mas eu morando aqui e ganhando em rupias meu bem. Cara de mal neles. Acho chato porque tenho que ser grossa. Vou voltar uma lady pro Brasil, me aguardem. Mas na Índia faca como os indianos.



Comprinhas básicas. Presentes pras Cazacas. E de volta pra casa. Fecha a mala e rumo a Khajuraho de trem. E eu pensando “que será que o Lucas vai achar do trem da Índia…uiui.”
Cenas do próximo capítulo:
- Templos
- Por do sol frustrado
- Mais compras
- Dança
- Cachu seca
- Saga de volta pra Delhi

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dharamshala e Dalai Lama

17 de março – short, blusa, lençol e ventilador

É já ta ficando quente. Mas por enquanto nada muito alem do calor belo horizontino.

Hoje venho aqui contar sobre a viagem para Dharamshala. A melhor e mais despreparada viagem de todos os meus tempos indianos. Na quinta demos a louca e decidimos tentar pegar um ônibus na sexta pra lá. Sem saber muito bem onde ir. Aqui não tem uma rodoviária propriamente e quando tem é um verdadeiro amontoado de ônibus. Quando se viagem no shity indian bus a passagem tem que ser comprada na hora. E descobrir o horário que o ônibus sai e quase impossível. Então mochila nas costas e rumo ao local de partida dos ônibus. Pegamos o shity bus, assim como em Jaipur, só que dessa vez a viagem durava 12h. Nossa, depois de duas horas a gente já não se aguentava mais de desconforto. Nenhuma posição servia pra dormir. Até que a Kim conseguiu umas poltronas vazias e se deitou. Depois veio me chamar pra trocar de lugar, daí eu ia conseguir dormir também. Quando acordei no meio da madrugada pra chamar a Ellen (fomos as 3 mocinhas) vi que cada uma estava ocupando um lugar. Os indianos todos apertados sentadinhos e a gente na maior folga. Acho que pela primeira vez fomos mais espertas e rápidas que eles. De manhã quando acordei fiquei reparando a estrada. Lindas montanhas. Paisagem maravilhosa. Dai vi como a estrada era cheia de curvas…nossa lá vai eu ficar enjoada. Mas não…fiquei bem. Tava pensando: ah até que a estrada é boa, espaçosa. De repente vem um caminhão na direção contrária. Aahh o motorista tá dirigindo no meio da estrada, mas não é mão única não hehe. A estrada na verdade era bem estreita. Mas bem o motorista parecia saber o que fazia. Por fim dormi de novo que era pra não sofrer hehe.
Chegamos em Dharamshala e pegamos outro ônibus (local) para Mcleod Ganj (onde realmente o turismo acontece). Estávamos super sem saber o que fazer. Café da manhã com Lonely Planet nosso pastor. Decidimos ver o templo, fazer uma aula de yoga e depois aula de culinária tibetana.
Mcleod Ganj é a cidade dos refugiados do Tibet e onde nossa santidade O Dalai Lama mora. A diferença de ambiente é nítida. Cidade calminha nos pés dos Himalays cheia de gente com o olho puxadinho. Milhões de freiras e monges budistas, todos com a mesma roupa e cabeça raspada. A cidade e bem mais fria, mas tem um ar bem aconchegante.
Chegando no templo vimos que todos estavam subindo pra o outro nível fazer não sei o que. Descobrimos que precisávamos nos registrar e que não dava mais tempo. Aff. Ficamos presas na parte de baixo e lá realmente não tem nada. De repente no auto falante um monge começa a rezar. A coisa mais estranha que já ouvi. Uns sons guturais...meio cantado. Mais grave que canto gregoriano. Então resolvemos sentar pra ouvir. Eis que me vem um canadense e pergunta por onde o Dalai Lama ia passar. Hein????? Ele tá aqui???? Vê-lo aqui é quase impossível. O cara é super pop e vive viajando, mas não é que fomos no dia e hora certos. Perguntei pra um segurança. Você quer ver nossa santidade? Senta aqui...ele vai passar daqui uns minutos. Nossa que emoção. Todo mundo sentadinho no chão. Os seguranças fecham a passagem com cordas de contenção e a comitiva começa a passar. Me pergunto se vou distinguir ele. Todo mundo igual hehe. Mas eis que ele passa com aqueles oclinhos inconfundíveis. Uma paz que só. Todos se curvam e juntam as mãos para reverenciá-lo. Eu boba paralisada até que levei um tapinha de uma moça e me abaixei também. Lá estava ele a distância do meu braço esticado. Podia ter encostado, mas não queria ser presa hehehe. Então ele sobe pro templo. Dai entendi porque todos estavam subindo. Ele ia ensinar. Sentamos no térreo mesmo e ficamos ouvindo pelo auto falante. Só que era em tibetano. Acho que pela formação da língua, mas ele fala umas 200 palavras por segundo.
Estávamos gostando, mas não entendendo nada então decidimos ir pra aula de yoga. Eu com o cóccix doendo há duas semanas depois que cai achando que posso jogar capoeira hehe. Aula muito legal, relaxante, meditamos, me estiquei toda. Meu cóccix nunca mais doeu.
O yogi era bem doirão, todo zen e vamos celebrar o amor. Um peçaa rara. Nos contou sobre a vida dele e a prática de yoga. Disse que no outro dia ia visitar o guru dele e perguntou se gostaríamos de ir. Achei meio estranho, mas a Kim endoidou, bem o que ela queria uma Ashram (local onde se pratica yoga e meditação) nas montanhas.
De lá fiz umas comprinhas (lugar ótimo pra compras) e fomos pra aula de culinária. Aprendemos a fazer momos, um tipo de pastel tibetano cozido no vapor. Super fácil de fazer, mas dá um trabalhinho hehe. O melhor da aula foi poder conversar com o professor. Quando tinha 20 anos fugiu do Tibet com um amigo. Passaram 28 dias nas montanhas, na neve tentando entrar na Índia. Após a invasão da China o budismo foi proibido e o Dalai Lama banido. A pressão política da China sobre o Tibet é enorme. Tudo é controlado. Agora até mesmo pra usar a internet é preciso se registrar no governo. E todos os sites acessados são rastreados por eles. O professor disse que tudo é extremamente controlado. Inclusive o que você pensa. Sai da linha e é punido. Perguntei o que o levou a fugir. Ele me disse que muitas pessoas fogem somente para ver o Dalai Lama. Escolha difícil porque uma vez foragido do Tibet não há como voltar. Ele disse que esse foi um dos motivos, mas queria liberdade de pensamento. “Minha mente é livre e sem limites, quero poder pensar o que quiser.” Conversamos sobre opressão da China, economia e política mundial, foragidos, de como a fuga acontece. Ele não vê e nem fala com a família há 8 anos e não tem a menor perspectiva de que isso aconteça. Se ele liga pra família ou até mesmo manda uma carta o governo vai saber e pode puni-los. “Pela segurança deles não me comunico. Foi uma escolha minha fugir.” Bem sofrido isso. Fiquei pensando na mãe dele. Ele nos contou também sobre o budismo e a proposta de tolerância. A questão é sempre buscar ser uma pessoa melhor e feliz. Buscar a felicidade do outro também. Sua fé, seu país, sua cor, sua facção política não interessam. O que interessa e a busca do equilíbrio e paz interior e exterior. Não é necessário ser budista para praticar budismo. Fiquei muito interessada em saber mais, mas tínhamos que voltar pro hotel. Comprei um livro do Dalai Lama na volta.
Essa foi a primeira viagem desvinculada da galera e da bagunça. Fomos as 3 mocinhas na busca de relaxar um pouco da loucura de Delhi. Dessa vez senti bem a cidade, conversei com pessoas que moram lá, conheci histórias, aprendi. Depois de um dia tão despretensioso e mágico, só porque eu tinha falado para uma amiga que estava sobrevivendo bem a Índia, tive minha primeira zica. Não sei bem o que foi, intoxicação alimentar provavelmente. No outro dia ainda me sentia mal e nem conseguia me mexer direito. Não fui pra ashram e só depois de muita insistência minha as meninas foram. Passei o dia na cama e não consegui comprar o jornal tibetano da Marcelle e nem a pimenta tibetana pro Leandro. Estava bastante preocupada sobre a volta. O ônibus seria melhor, mas eram 12h de viagem numa estrada em espiral. Os ônibus da Índia não tem banheiro. Uiui. Tomei um remédio de viajante que eu chamo de rolha. Prende tudo kkkk. Tomei um dramim segurei na mão de Deus e fui. Cheguei viva em Delhi as 6 da manha e 7:30 estava saindo de casa pra pegar o ônibus da empresa. Força na peruca. E vamo que vamo.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Holi



8 de Março - short, blusa e 1 edredon

Dia 1 de Março foi dia de Holi - Festival das cores. Tava super na expectativa sobre esse dia que todo mundo fala tanto. Os indianos endoidam com o Holi. Acho que é o festival que eles mais gostam depois do Diwali. Todos falavam: You're gonna have sooo much fun. Dai a primeira dificuldade: onde passar Holi? Como a idéia da comemoração é jogar tintas em pó e água na galera o simples fato de estar na rua já te faz um alvo fácil. E como tem espírito de porco em todo lugar algumas pessoas jogam ovo e alguns homens aproveitam pra pegar onde não deve na mulherada. Isso significa não ficar dando bobeira na rua ou talvez nem ficar em Delhi e ir direto pra uma festa na qual você sabe que não vai dar rolo. Como no dia anterior era o festival do elefante em Jaipur e ninguém de Kalkaji B resiste a um paquiderme (ainda mais todo enfeitado) lá se foi a família quase toda pela segunda vez a Jaipur. Depois de umas tentativas frustradas de procurar um outro apartamento pra morar (a aiesec esta querendo mudar a gente de lugar e estamos mantendo um plano B na carteira....nunca se sabe) fomos pra Jaipur no final do dia. Domingo de manhã umas comprinhas pelo mercado da cidade velha. Detalhe super importante: Comprei um saree. Ai agora vou arrastar meu saree pelo mercado demais. Assim que ficar arrumadinho eu mando uma foto. Se é que eu vou conseguir aprender a vestir esse trem algum dia. À tarde seguimos para o estádio onde o festival seria. Nunca vi tanto elefante junto na vida (tudo bem que qualquer 3 elefantes juntos pra mim já era demais). Todos enfeitados com pinturas, tecidos, ate piercing, tudo naquele exagero indiano, mas tudo muito lindo. Antes de entrar ficamos ao redor do estádio. Dai você tá bem conversando de repente passa um elefante em alta velocidade. Dai você leva uma rabada ou orelhada. Quando a gente cansou de ficar prestando atenção pra não levar uma elefantada entramos no estádio. Novamente lugar especial para estrangeiros. A gente se sente mal, mas venhamos e convenhamos eu não sou indiana e não aguento qualquer parada. A mestre de cerimônia anuncia que haveriam alguns jogos e que todos poderiam participar. Corrida com balde de água na cabeça (surpresa: a água era roxa), cabo de guerra entre indianos e turistas hehehe aff e holi nos elefantes (duas pessoas montadas num elefante jogando tinta nas outras...esse era muito legal, mas claro acabou rápido). Lá pro meio do festival a gente tava querendo matar a mulherzinha berrando no microfone. Mas tudo bem. Primeiro o desfile pra eleger o elefante mais bem ornamentado. Tarefa difícil. Dai a mulher explica que na Índia quando você quer elogiar uma mulher você diz que ela anda tão graciosamente quanto um elefante. Ah fala sério maluco! Os meninos já olharam pra gente (eu e Kim) com aquele cara. Dai eu já disse: quem me chamar de elefanta vai levar. Depois começaram os jogos. La vai eu pra competição de cabo de guerra. Quando vi eu era a única mulher, dei um passo pra trás, fingi que não era comigo e sentei na grama hehehe. Sorte a minha porque a corda arrebentou e todo mundo caiu no chão. Os meninos conseguirem participar do holi nos elefantes e ficaram daquele jeito. Cobertos de tinta em pó da cabeça aos pés. Fomos pro hotel tomar banho e depois festinha dos trainees da AIESEC. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte pra comemorar com eles.
Chegado o tão esperado dia. Dificuldade pra tomar café...tava tudo fechado. Na rua toda hora passava alguém sujo. Quando saímos do quarto o dono do hotel já veio com tinta pra cima da gente. Na rua uma cena que já é comum, 3 indianos em uma moto só ou as vezes 4 ficou mais engraçada ainda com as tintas. Seguimos pro parque onde combinamos de encontrar o pessoal. Uma família indiana estava lá também. Nos deram comida e bebida. Todos muito solícitos. Música de fundo. A criançada pirando com aquele tanto de estrangeiro pra correr atrás. E a gente pirando com aquele tanto de criança jogando água. Era tinta pra tudo quanto e lado. Você para inocentemente pra tirar uma foto e leva uma baldada de água na cabeça. Aquela meleca. Muito divertido. Todo mundo muito animado, o astral tava ótimo. Cada hora chega um e fala: você ta muito rosa. Te enche de outra cor. Ai agora você tá muito amarela. Aff. Ficava o tempo todo tentando fugir da tinta azul escura que é muito difícil de sair. E claro todo mundo quer passar bem na sua cara. Depois de tantas trocas de cores posso dizer que fiquei guapa viu??? Mas ficar correndo no sol e levando tinta cansou rápido. Voltamos pro hotel. Banho rezando pra tinta sair. No chão do chuveiro não parava de escorrer água rosa. Seu eu mexia no cabelo aumentava. Um certo pânico no ar. Saia do banho toda hora pra olhar no espelho. Calma tá saindo hehe. Mas em alguns lugares a tinta ficou. Felizmente tudo fácil de cobrir pra ir pro trabalho. Saio do quarto e me deparo com um happy drunk smurff. O Luis da Costa Rica, novo integrante da família, tava sem camisa todo azul e bebendo cerveja. Que cena! O Matt todo rosa. O pobre do menino e loiro...aff dai a tinta não sai direito. Almoço rápido, todo mundo quase todo limpo e hora de voltar pra Delhi a tempo de ter uma noite de sono descente. Dessa vez resolvemos voltar no ônibus dos locais, mais conhecido pelos estrangeiros como shity indian bus. Nossa senhora da bicicletinha protege e vamo que vamo. De um lado 2 poltronas do outro 3 e sem divisórias. Sentamos bem atrás do motorista. Visão interessante a não ser pelo quase acidente. Um caminhão fechou o ônibus. Tava tentando entender por que demora 6 horas pra percorrer 261 KM. Ainda não sei porque a estrada e surpreendentemente boa, todo em pista dupla e como a Fernão Dias pedágio pra todo lado. As paradas seguem o naipe do ônibus. Na ida restaurante legalzinho. Na volta banheiro indiano sem luz.
Chegamos em Delhi e travamos a maior batalha de todos os tempos com os motoristas de rickshaw. Mas baia a gente não aumento o preço. Vencemos. Pelo menos a gente acha que vence né? O importante é ser feliz. Mais um banho. Mais água rosa no chão. Roupas de molho no balde. Cama pelo amor de Deus.
No outro dia, da faxineira ao chefão, todos com algum vestígio de tinta. Aqui na TCS como só tem 2 estrangeiros no prédio todo mundo é moreno de cabelo escuro e ninguém tava de cabelo rosa. Mas no escritório de Mumbai me disseram que tava bem engraçado. Lá tem mais estrangeiro. Meu coordenador tinha tinta na orelha que eu acho que ele ainda não viu kkkk. Um dia com uma coceirinha de leve por causa da tinta. E agora já todos recuperados.

Aviso aos navegantes: ano que vem vou comemorar Holi ai no Brasil....certeza.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Amritsar


16 de fevereiro – sem carnaval – blusa, short e 3 cobertores

Esse final de semana a família Kalkaji B toda (menos o Matt) e mais dois trainees de Kalkaji N partiram para Amritsar em Punjabi. Dez pessoas e eu pensando: esse trem não presta. Maior aventura pra sair do trabalho mais cedo e conseguir pegar o trem a tempo. Rickshaw até a estação de metro - metro - rickshaw de novo pra chegar em casa. Uma hora e meia e muitas rúpias depois cheguei tomei um banho rápido fechei a mala e vamo que vamo. Saímos com antecedência porque dia 12 é um dia auspicioso (e eles usam essa palavra mesmo...segurei pra não rir) para casamentos e casamentos na Índia geram engarrafamento. No trânsito, aquele desespero de não conseguir chegar e não vi nenhum casamento. Duas pessoas já estavam esperando a gente lá e tava difícil de achar. Fomos correndo pra plataforma e o trem tava atrasado por 1h. Decidimos ir pro restaurante da estação, surpreendentemente legal. 1h depois o trem foi atrasado por mais 1h. Fizemos uma roda de malas e sentamos em cima. Baralho. Observando o Asian Army (dois japoneses e um chinês que sempre ficam juntos) conversando. Adoro ver eles conversando, não sei porque. Deve ser porque o louco do Satoshi tá no meio. Quando voltar eu imito ele pra vocês hehehe. O trem finalmente foi anunciado, mas ainda esperamos um pouco na plataforma. De 10 em 10 min ele era atrasado mais 10 min. 2 horas e meia depois estávamos partindo a caminho de Amritsar. Durante esse tempo todo eu me perguntava se devia voltar pra casa. Tava com um resfriado e começando a ter sintomas de rinite alérgica. Mas não é que isso veio a calhar. Meu nariz tava entupido e não senti nenhum cheiro durante a jornada. O povo reclamou que o trem tava fedendo muito e que a estrada fedia mais ainda. Além disso tava com o olho pesado, sonolenta, dormi incrivelmente bem. Nem passei frio dessa vez. Chegamos lá atrasados e famintos e fomos pro hotel, reservamos um taxi pra nos levar à fronteira com o Paquistão e fomos almoçar. Depois de ter comido o melhor sorvete da vida em Viena (e não na Itália) comi o melhor brownie com sorvete da vida em Amritsar (e não nos EUA). Dai saímos correndo de jeep pra fronteira. O objetivo era ver a troca da guarda e a abertura do portão para que os países se cumprimentem. Chegamos lá e segurança bruta, revista, soldados armados até os dentes. As mulheres em fila separada e revistadas atrás de um tapume (isso acontece em todo lugar inclusive em baladas). Deve ter tapume pra ninguém ver a boa revistada que as militares fazem na gente principalmente na região peitoral. Passamos na guarda e fomos pra uma fila especial para estrangeiros. No local arquibancadas, a unidade do exército e o portão da fronteira. As arquibancadas ficam cheias de indianos que descem pro meu da rua pra dançar quando toca uma musica que eles gostam (todas) mostrando que povo feliz eles são pros paquistaneses. Do outro lado do portão a mesma coisa. Ai começa a troca de guarda. Chega um animador de platéia puxando uns gritos e pedindo pro povo gritar mais alto pra mostrar por outro lado. Dai ele leva o microfone pra um dos oficiais que começa a dar uns gritos, enquanto o oficial do Paquistão faz o mesmo. O objetivo é dar um grito grave e manter atté perder o fôlego (tipo competindo um lado com o outro). A cada dois gritos dois guardas saem e vão marchando até o portão, só que eles saem meio correndo e dão um chute levantando a perna até quase o nariz, haja flexibilidade. Ai vão marchando bem rápido fazendo cara de mal e quando chegam ao portão fazer uma coreografia com movimentos bem bruscos pra fazer medo no soldado do outro lado que tem coreografia bem parecida. A diferença é que no lado paquistanês eles balançam a cabeça de um jeito a valorizar o tipo de chapéu de eles usam. Ficam parecendo galos. (hum que vontade de ir no Mineirão) Ai ficam de frente uns pros outros e arrumam o chapéu fazendo um movimento com os braços tipo: olha como minha farda e mais bonita que a sua. Dai se viram de costas dão outro chutão e voltam . Trocam as bandeiras, a galera grita mais, o soldado grita mais, mais chutes e coreografias. Uma experiência antropológica. Saindo de lá fomos jantar numa Dabha Punjabi (restaurante típico, um pouco diferente da Dabha Mogol que a gente freqüenta em Delhi) e compramos bebidas pra levar por hotel Dessa vez não era dry day. Aff.
No dia seguinte acordamos tarde. Ninguém lembrou de colocar o celular pra despertar. Fomos tomar café correndo e fomos pro Golden Temple. O dia já começou atravessado no quesito comida. O café da manhã foi péssimo. Chegamos no templo e tava lotado. Entramos na fila que ia demorar umas 2h no mínimo. Em 15 min desistimos. Não íamos ter tempo. Fomos pra outra parte do templo e um Sikh veio perguntar se a gente tinha conseguido entrar porque ele tinha passe para estrangeiros. Era a segunda vez que a gente se aproveitava do fato de sermos estrangeiros. Furamos aquela fila enorme e me senti péssimaaa. Mas a gente não tinha tempo para esperar e ia ser o fim do mundo ir embora sem entrar no Golden Temple em si. Entramos e foi uma experiência inacreditável. Dentro do tempo ficam alguns músicos tocando uma música que quase te leva ao transe se você parar pra sentir. O templo é maravilhoso por dentro. Enquanto todo mundo saiu eu e Bea ficamos pra meditar um pouco. Mesmo não sabendo o que fazer e me sentindo um pouco infringindo leis tinha que me sentar e sentir aquela energia. Foi muito bom. A dor de cabeça foi embora. Quando saímos um outro Sikh veio conversar com a gente e explicar um pouco a história do templo e da religião Sikh muito comum no Punjabi. O Golden temple é o principal templo do Sikhsmo e foi construído pelo quarto guru dos sikhs. Os praticantes dessa religião podem ser reconhecidos pelos 5 elementos que eles usam. Turbante (pra proteger o computador kkkk), barba e cabelos longos, adaga (para proteção pessoal e para ajudar quem precisa), pulseira de prata usada na mão direita (que é a mão que faz tudo) e cueca larga (?????? Não quis perguntar pro tiozinho porque?) Fomos convidados pra tomar chai com eles. Parecia ótimo, mas tinha alguma coisa estranha com o leite que eu sabia que ia me fazer mal. Comemos uma comida muito pesada também, que no momento tava boa, mas depois…ui. Nesse templo eles oferecem comida e acomodação de graça (leia um teto e dormir no chão) para os peregrinos. Saímos correndo de volta pro hotel, demos uma olhada no bazar em volta e fomos pro estação de trem. Saímos na hora, mas a viagem de volta foi horrível. Meu nariz não estava mais entupido e comecei a me sentir mal por causa da comida. Depois de longas horas cheguei em casa tomei banho e fui trabalhar….eta vida Severina hehe.
A viagem foi corrida e vimos poucas coisas, mas aquele templo vai ficar na memória pra sempre.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Becoming Indianized

10 de fevereiro - camiseta, short e dois cobertores

Esses dias tava almoçando com o meu chefe e ele me perguntou como eu tava indo com a comida. Se gostava ou preferia a comida de casa. Eu disse que gostava muito, mas que às vezes tinha umas surpresas apimentadas. Mas a pimenta é forte até pra eles. Meu chefe pinga de suor todo dia almoçando hehe. A questão é que eles gostam. Se não estiver picante não tem graça. Ele elogiou minha habilidade pra comer com a mão (e olha que eu acho que sou bem iniciante ainda, engraçado que eu acho até que eles tem mais força nos dedos) e me perguntou se eu preferia de acompanhamento paratha (uma coisa entre pão e panqueca) ou arroz. E não é que eu prefiro paratha. O dia que não como sinto falta. Daí ele disse: É você está fully indianized. Será que isso é bom ou ruim? Ela tava falando de comida, mas se eu for me ajustando demais imagina como será eu dirigindo? Já tinha um certo gosto pela buzina, sozinha vou aumentar a poluição sonora da cidade e vou acreditar piamente que posso sim brigar com um ônibus. Vou parar de achar que só porque eu sou menor tenho menos força. Thheeke hai. E pra que retrovisor? Tá me vendo no sô? Ow bi bi (numa versão brasileira porque as buzinas aqui são super escandalosas). Alguns carros aqui nem tem retrovisor. Às vezes só o do lado do motorista e quando tem o outro ele fica dobrado. Afinal de contas um retrovisor são 5cm a menos de espaço para você se enfiar ali oh naquele buraquinho ali no meio...eu sei que cabe. Bom mas aí vou enfrentar um problema. Esses indianos tem uma noção de espaço muito boa, já eu, o para choque do meu falecido carro que o diga (nossa mas eu quero um crédito porque minha garagem era sinistra). Já a orientação é péssima que nem a minha. Pelo menos avaliando pelas motoristas de rickshaw que quase nunca sabem onde você quer ir. Esses dias peguei um engarrafamento sinistro na volta pra casa. Tava bem dormindo no ônibus (como é o ônibus da empresa é bem mais confortável e vazio que o ônibus da cidade). Quando acordei achei que estava no olho de um furação. Vários carros parados num cruzamento um do ladinho do outro, cada um virado pra um lado. Tinha uma moto que tava completamente na direção contrária, e nem a moto conseguia passar, era bem um do ladinho do outro. Não sei como esse trem funciona.
Às vezes gosto de almoçar com uma mocinha que senta no cubículo do lado. Ela se junta com um pessoal que trabalho numa outra sala. Acho ótimo porque posso fazer mais graça e eles racham de rir de qualquer coisa que eu falo. Quem me conhece sabe que eu preciso de uma platéia fácil kkkk (saudade das risadas: Márcia Elisa, Suiara, Cris, Amanda, Cocha, Nat, Marinninha e Vivi que até comecei a rir igual hehe). Desse grupo só sei o nome da vizinha porque meu problema com nome aqui se agravou bastante. O povo fala alguma coisa em hindi - nomes incluídos- eu repito e esqueço. Uma pena porque eles dizem que minha pronuncia é boa. Gosto de me juntar a eles também porque trocamos figurinhas sobre os países. Eles acham o máximo que já tive fazenda com cavalo. Um dia estávamos conversando sobre o qual era a melhor qualidade do povo de cada país. Eu disse a alegria e leveza do brasileiro e eles a facilidade de adaptação dos indianos. Indians can live anywhere ele disse. Tá vendo essa poltrona? Você tá aí sozinha, mas se precisar sentamos 3 ai. E realmente quem come tanta pimenta, passa tanto aperto e vê tanto coisa suja e tanta poeira vive em qualquer lugar. E sobre casamentos. Nossa como to doida pra ir num! A Irem ia me levar em um dos eventos (o casamento pode durar de 3 a 7 dias), mas adivinha: vou viajar de novo nessa sexta. Ela disse que em torno de 70% dos casamentos ainda são arranjados. Que agora a situação está um pouco mais flexível, mas não deve mudar. Hoje o pai do noivo escolhe uma noiva e eles podem se ver uma ou duas vezes por meia hora pra se conhecer. Então dizem se aceitam ou não. Pode dizer não? Pode, mas com um certo limite. Lá pro terceiro pretendente você já não vai ter muita escolha. Se eu entrasse nessa onda meu pai já estaria procurando um marido pra mim. Tô na idade já. Engraçado que a taxa de casamentos bem sucedidos é bem mais alta nos casamentos arranjados do que nos casamentos por amor. Acho que a noção de amor aqui é bem diferente. Na cultura ocidental você passa boa parte da vida procurando o príncipe encantado, ai se você der sorte e achar casa com o moço. Passa dois anos você separa porque ele deixa o sapato no meio da sala e arrota quando bebe cerveja grudado no sofá assistindo jogo. Aqui você não tem muita escolha então deixa o homem em paz hehe. (Espero que esse post nunca seja usado contra mim, olha que eu separo hein??)
Outra coisa interessante de observar aqui e como a economia é baseada no dia. Como eles estão acostumados com o fato de não saber bem como será o dia de amanha (atualmente, com o crescimento econômico do país a situação tem melhorado), então tudo é pensado no dia. O que vou comer hoje. Quanto dinheiro tenho pra gastar hoje. Por isso a maioria das embalagens são super pequenas (e incrivelmente difíceis de abrir - para abrir um pacote de lays, por exemplo, tem que rasgar). Ate as tupperware são pequenas. Quando vão abastecer o carro é bem comum colocar o mínimo de combustível necessário. Todo pensado no agora.
Durante o almoço aulinhas infrutíferas de hindi e depois do almoço caminhadinha pra sair um pouco do escritório. Uma piada. A parte externa do prédio fica lotada de gente andando pra lá e pra cá. Tipo passarela. Chega no fim dá meia volta e continua andando. Algumas poucas pessoas saem da empresa pra caminhar do lado de fora. Aqui por perto não tem restaurantes, então ou você traz comida de casa ou come do restaurante da empresa.
Aqui a sexta feira também é casual e algumas pessoas arriscam jeans e tênis. E ai - uuuhhuu - chega o esperado final de semana. Nossa fico morta aqui ate chegar sexta. A Índia cansa mais que o normal hehe. Nesse momento estou trabalhando com facilitação de reuniões e treinamentos. Estou definindo facilitação como competência (a partir dessa definição a empresa avalia os funcionários atuais e os que serão contratados) e estou fazendo um treinamento para facilitadores também. No meio tempo faço pesquisa de bibliografia e treinamentos que a empresa já possui para clientes internos. Vou começar a trabalhar num projeto em conjunto com a TCS - USA. Bem bacana.
Tive 2 finais de semana aqui em Delhi. A cidade e bem legal O centro bem mais organizado. Cheia de mercados (bazaars). Num dos finais de semana a Mari veio me visitar. Turistadinha básica. Primeiro no Lotus Temple que tava fechado...eh laia..e depois Humayuns's Tomb. Um lugar muito bonito que inspirou a construção de Taj Mahal. Dai fomos almoçar num restaurante muito bom na parte muçulmana da cidade. Na mesma rua tem um bazaar e ai sim deu pra ver o que é a Índia. Umas ruelas minúsculas, cheias de auto rickshaw e cycle rickshaw (versão bicicleta) e motos. Umas lojinhas que são açougue...nossa uma atração a parte como eles cortam a carne (segurando a faca com o pé) e fica tudo ali exposto sem geladeira. Meio nojento na verdade. Quando cheguei lá fiquei com medo do possivel revertério, mas a comida era ótima (muito óleo porém) e nada aconteceu. Esse restaurante - Karim's - foi eleito (não sei a data) o melhor dhaba (restaurante que serve comida local) da Ásia. O tataravô ou bisavó do dono era cozinheiro da cozinha imperial na época do Império Mogol. Cozinha Mogol tradicionalíssima. Do lada do restaurante tem uma mesquita gigantesca. Dai as 18:00 é hora de rezar e um cara fica cantando no auto falante. Bem desafinado, mas dá um ar diferente pro lugar. Nesse momento nenhum estrangeiro pode entrar na mesquita.
Segundo final de semana em Delhi, foi mais voltado pras comprinhas. Fomos ao Red Fort, um forte gigantesco na parte velha da cidade, mesma área dos muçulmanos. No domingo saímos só as meninas da casa, eu, Bea e Kim pra um bazzar famoso pelas roupas baratas. Nossa mas é muito barato mesmo. Gastei uns 80,00 reais e comprei 6 blusas, 2 calcas, 1 carteira, 1 cinto e umas pulseiras. Mas vou dizer: tem que ter muita força de vontade. A maioria das roupas são de marca (que são fabricadas na Índia e vendidas pelo quíntuplo ou mais do preço depois da etiqueta). Milhões de peças empilhadas pelas barracas. Uma poeira louca. Muita gente na rua. Você tentando pechinchar. Pechincha é a lei. Quando chegamos um cara veio oferecer óculos. Disse que era 1.200 rupias. A gente deu uma boa risada na cara dele. A Kim já tinha quase comprado por 100. Daí ele disse: Quanto paga então madan? Te dou 100 rupias. Ai Madan muito pouco, faço por 1.100. Não! Meu preço final é 100. Depois de um pouco de lero lero ele disse ok ok 100. Nossa fiquei meio assustada. Ia ter que barganhar de verdade o dia todo. Não pensava que ia variar tanto. Mas de enganação exorbitante foi só esse cara mesmo. Funciona assim: Você pergunta quanto. Te falam um preço. Você diz que paga a metade. Eles dizem não. Você diz: Ai baia eu vivo aqui eu sei o preço das coisas. Ele diz: Mas Madan. Você diz: Final price. Ele diz não. Você faz cara de desdém (nem queria mesmo) e sai. Vem o cara e te buscar na loja do lado: ok ok madan. É legal, mas na segunda loja já enche o saco. Daí chega em casa e deixa a roupa de molho com desinfetante por causa da poeira. O Gergo resolveu cozinhar para todos, Jantarzinho em família. Está virando até tradição. Se não estamos viajando alguém cozinha o jantar de domingo. O próximo e da Bea e depois eu. Ai será que vai dar certo?



Próximo post mais uma viagem. Bão demais.