quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Umas semaninhas de folga - Capitulo 2 - Varanasi

14 de Outubro – still enjoying the blue sky

Depois de tantos momentos especiais vividos no IC (ganhar jantar com o Presidente da AIESEC Internacional depois de vencer competição de dança do ventre, incoporar os chifrinhos de diabinha, de conversar com gente do mundo inteiro, de pensar igual as pessoas ao meu lado, de tomar guaraná antartica, de planejar viagens com amigos, enfim, tantas coias), na manhã do dia seguinte partimos para Varanasi, cidade sagrada para os hindus e onde passa aquela parte limpa e cheirosa do Ganges que a gente vê na TV. No aeroporto li no Lonely Planet (bíblia) que Varanasi é um bom lugar pra morrer. Olha meu querido não tô muito com esses planos não sabe? Antes de entrar no vôo comento com a Babi que não gosto muito daquela Cia porque só dá um povo meio estranho, mas tudo bem vamo que vamo. E realmente tinha um povo estranho no vôo, muita gente doente. Ai a Marina diz: Eles devem estar indo pra Varanasi pra morrer. Dai eu digo: Menina é mesmo, achei que era porque estamos voando de spiceJet.
Saímos do aeroporto e já foi aquele custo pra pegar o taxi. Nenhum carro passa onde precisávamos ir. Nem rickshaw nem bicicleta. Aff eu tava de mochila, mas as meninas estavam com malas um tanto quanto grandinhas. Então lá fomos nós com o taxi até onde ele podia nos deixar. Depois disso embrenhamos na cidade velha. Dessa vez as palavras que descrevem são: “Minha nossa senhora da bicicletinha, dai-me equilíbrio!” A cidade é completamente suja, de ruas estreitas, vacas e bosta de vaca pra tudo quanto é lado, muita gente andando, moto, bicicleta, defuntos passando, um inferno. Eu só pensando: aff a Babi vai me matar. Eu já estava acostumada com esse tipo de coisa, ela não. Porém, eu tentava lembrá-la sempre do primeiro válido ensinamento sobre a Índia: enxergue além do que você está vendo! Então nos abrimos para uma experiência fantástica.



Varanasi é marcada, principalmente, por sua importância como lugar religioso vinculado a morte. Para os hindus o fogo é considerado agente purificador, então os corpos (não todos) deveriam ser cremados para se purificar, tanto no sentido físico (higiene) quanto no sentido espiritual. Após a cremação, que dura 3 horas, parte dos restos mortais (peitoral para os homens e quadris para as mulheres) é jogada no Rio Ganges. Os corpos de crianças, deficientes físicos, mulheres e homens santos não são cremados, pois já são considerados puros. Assim o corpo é jogado inteiro no rio amarrados em pedras, que infelizmente as vezes se soltam dai o corpo emerge no rio. Em Varanasi existem dois grandes crematórios.
Como chegamos na guesthouse no final da tarde resolvemos tomar banho e jantar no terraço que tinha uma vista linda para o Ganges e para um dos crematórios. Da cozinha vinha um cheiro bom de carne. A gente com fome…hum cheiro bom. Dai eu pensei, ok a gente tá na Índia, como tá cheirando carne? Ai eu olhei pro fumacé saindo do crematório….kkkkk será o benedito? Kkkkk. Será que o cheiro está vindo de lá????? Aiiiiiiiiii socorroooooo. Depois de muito analisar eu bem cheguei a conclusão que o cheiro vinha era da cozinha mesmo, porém a Babi deve estar sem comer carne até hoje. Depois desse susto começo a reparar melhor o restaurante, dai vejo umas 3 lagartixas na cortina atrás de mim. Mudo de lugar e olho pra cima. A armação do teto tava coberta de lagartixas. Aiiiiiiiii meu Deussssssssssss. Olha eu agüento tudo, mas cobertura de lagartixa não. Eu dei um escadalosinho de leve, sorry. Todo mundo do restaurante estava olhando pra mim. Comi rápido, assuntei sobre o que fazer na cidade com os mochileiros e sai correndo de lá. Cama.
No outro dia eu começo a dar sinais de que o rio tava me chamando. Acordei passando mal e com muita dor no corpo. Fingi que não era comigo e fui ver a cidade. Café da manha deitada no sofá tomando suco de laranja. DERROTA. Pré desmaiada a caminho do rio com direito a parada numa loja de saree pra sentar e tentar levantar a pressão. Tô nem ai…vou conhecer o rio e depois volto pra guesthouse. Chegamos e fui negociar um barco pras meninas. Dai a transformação se consolidou, eu, com meus nove meses de Índia, já tava de saco cheio de negociações de preço, estava passando mal, tava fazendo muito calor, muitos estímulos por todos os lados, então eu explodi. Negociava gritando com o Bhaya (ou baiano segundo a Babi hehehe), quer dinheiro ou não!!!! Eu pago tanto, quer? Yes or no? Então sai da minha frente. As meninas meio impressionadas (mas elas conhecem um lado menos mal de mim então tudo bem), mas acho que assustei dois aiesecos russos que se juntaram a nós. Às vezes tenho medo de voltar bruta e mal educada pro Brasil, mas aqui na maioria das vezes essa é a única forma de não ser passada pra trás. O que interessa é que conseguimos o barco e eu acabei decidindo também me juntar ao passeio. Ficamos quase 2 horas rodando o Ganges. Ai passa um barquinho cheio de indianos e um deles enchendo uma garrafa…ai meu Deus por favor não bebe isso. Kkkk. Alguns infelizmente bebem. Por fim resolvi me deitar (não me agüentava mais sentado) e acabei cochilando. Dai a pouco descemos num dos crematórios e ficamos observando os funerais. O corpo chega em uma maca coberta de tecidos vermelhos e dourados, carregado por parentes, todos homens (as mulheres não participam, pois não conseguem controlar as emoções e segundo os hindus choro e histeria perturba o processo pelo qual o morto passa). Ao chegar o corpo é coberto por toras de madeira (o tipo de madeira depende de quanto a família pode pagar). Depois de 3 horas queimando, alguém da família segurando duas pequenas toras de bambu retira os restos mortais das cinzas e joga no rio. Dentro do rio alguns cachorros esperando o corpo ser arremessado. Meio nojento e assustador devo dizer. Mas com certeza foi incrível observar aquilo tudo, mesmo com todo mal estar que estar que eu estava sentido.



Vimos também o fogo de Shiva que está acesso á séculos.
Saímos andando pelas becos da cidade, que de acordo com minha, digamos, interessante visão, se parece com Veneza. Mas vai lá, pensa bem, Veneza no século 17 com mais vacas devia ser daquele jeito mesmo, cheia de becos e canais e sujaaaaa. Fizemos comprinhas, entramos num templo, observamos corpos passando e mais esquisitices de Varanasi, inclusive “mutantes”, coisas que só vendo pra saber, nem me arrisco a descrever. Por fim voltamos à guesthouse. Sobrevivi àquele dia e estava muito feliz de ter persistido em sair.
Mas tarde, ás 7 da noite fomos assitir o Puja, cerimônia que acontece todos os dias na beira do rio de manhã e a noite em homenagem à Ganges. Os brahmins, membros da casta sacerdotal, celebram a cerimônia cantando e fazendo movimento como objetos, alguns com chamas, já que o fogo é considerado sagrado e purificador.



Durante o puja fiz uma oferenda à Ganges pensando no meu irmão que se casaria no outro dia. Estava mandando boas vibrações praquele momento tão feliz na vida dele. Essa oferenda se parece com as oferendas pra Iemanjá. O difícil é tentar colocar o barquinho no rio sem enconstar na água. Argh!



Varanasi foi com certeza o pior lugar que já visitei, mas também um dos mais incríveis. Não sei bem dizer de onde vem o encantamento. Se há algo no ar, algo de sagrado que nos afeta mesmo não compartilhando da religião, se nos rendemos à curiosidade e ao absurdo, que na verdade é absurdo somente pra gente mesmo (tudo bem, vários indianos me perguntaram que diabos eu fui fazer lá, então acho que é absurdo pra eles também). Já tinha ouvido várias coisas sobre Varanasi, mas nada é suficiente para descrever. Verdadeiramente, ou você ama ou você odeia. A abertura deve ser enorme. A vontade de ver além exige muito esforço. Esforço totalmente válido e que deve ser praticado constantemente aqui.

A PLACE THAT HAS TO BE BELIEVED TO BE SEEN.

No outro dia, longo trem para Delhi e um pequeno incidente. Três mocinhas estrangeiras viajando sozinhas de trem durante o dia só podia dar merda. Estávamos viajando de classe sleeper. Daí eu subi pra cama mais alta pra ler um livro. Então a Babi me chama: Let´s olha isso! O trem estava parado e uns 20 homens do lado de fora olhando as duas. Dentro do vagão mais uns 20 sentados uns em cima dos outros olhando a gente porque as camas a nossa volta estavam vazias. Então sai pedindo ticket pra todos. Muitas vezes eles entram no trem sem ticket e sentam onde está vazio. Todos claro começaram a rir: Olha a firange falando com a gente em inglês hehehe. Ah é? Me aguarde. Lá sai eu atrás do controlador pra resolver a situação. Com muito custo ele chega no nosso vagão. Era neguinho voando pra tudo quanto é lado. O cara saiu xingando todo mundo e tirou de lá até quem tinha passagem. Passa um pouco e chega um policial: Problem madam? No problem. Me friend. Stay here. Kkkkk Dai sentaram 2 policiais com a gente com umas armas gigantes da época da invasão britânica eu acredito e ficaram lá um pouco para espantar os atrevidos. Dai uma família sentou com a gente e seguimos viagem mais tranqüilas.



Chegamos em Delhi e minha casa estava de cabeça pra baixo. Mil hóspedes, cozinha suja, internet sem funcionar. Eita é assim eu saio de casa por 2 semanas e ela quase vira de cabeça pra baixo. Tentei manter a calma, pois tinha visitas hehe.
No outro dia encontramos com parte da delegação brasileira e levei a galera pra fazer comprinhas. À noite fomos jantar em Old Delhi, idéia quase de jerico porque essa é a parte mulçumana da cidade e era época de Ramadã e, além disso, eram 6 horas. Totalmente de jerico. Porém logo a boa comida nos fez esquecer a fome negra e o perrengue que passamos nas ruas até chegar no restaurante.
Dia longo e no outro dia eu trabalhava. A mamata acabou. Teve bão. Mais uma grande aventura na Índia. Mais aprendizado. Muita história pra contar.
Me despedi de todos que seguiram para Agra. Um triste até logo. E espero que logo mesmo e agradecimento pela incrível compania.

Namastê!

domingo, 3 de outubro de 2010

Umas semaninhas de Folga - Capitulo 1 - IC

3 de Outubro – A chuva lavou a alma da Índia! Temperatura agradável e céu azul

Finalmente vou contar um pouco sobre as duas semanas de folga que tive do trabalho (dividirei em 2 capítulos). Nossa, depois de tanto correr, de tanto cansaço no trabalho finalmente consigo tirar alguns dias pra viajar (de forma diferente da usual com viagens corridas de final de semana). Alguns dias não, benditas duas semanas inteiras.
Primeiro destino Hyderabad para participar do Congresso Internacional da AIESEC. Depois de tanto esperar e pensar em como eu poderia participar, estava eu ali louca arrumando a mala para o evento. Dez dias de conferência com pessoas de 110 países diferentes. Não há outra palavra para descrever senão mágico. Além de vários encontros com pessoas novas tive vários reencontros maravilhosos. Babi, da AIESEC BH, atual presidente da @Bolivia, também participou do evento e by the way era minha chefinha de delegação. Tive uma vida tripla durante todo o evento. Era delegada da Bolívia, porém acabei um pouquinho delegada do Brasil também (se era pra dançar roll call, puxar grito e ficar com a galera lá estava eu, a saudade bateu mais forte), e também era parceira, pois estava representando a TCS (se era pra locomover de taxi, ficar no hotel no pré meeting e pegar red bull de graça era eu de parceira: - OC: - Why you don´t have a badge? Cara de pau: – I am a partner! OC: – Oh I am so sorry! Só na malandragem.
Cheguei em Hyderadad já virada (tinha ido numa pool party antes e cheguei em casa já só pegar a mala e ir pro aeroporto) e fui para o hotel onde o pré meeting estava acontecendo. Tava louca pra ver a Babi, que já estava na Índia há uns dias e encontrar outros amigos que conheci na aiesec por ai. Encontrei com o pessoal da TCS também e já comecei fazendo bons contatos. Acabei ficando no hotel e no dia seguinte fomos pro Taj, hotel onde a conferência aconteceria.



Na cerimônia de abertura conheci a delegação toda do Brasil. Todos ótimos e super acolhedores comigo que queria tanto ficar perto da brasilidade (ainda mais com a barra de talento e guaraná Antártica que a Babi trouxe pra mim). A cerimônia foi ótima e já mostrava um pouco de como o evento seria.



Me divertia com todos reclamando da pimenta. Já dizia a Babi: a pimenta acumula, ela é loucaaaa. Ficava pensando o tempo todo sobre o que os delegados estavam pensando da Índia. Cada hora acontecia uma coisa e o povo me olhava: Ah gente aqui na Índia é assim mesmo hehe. Enjoy!
Já nos primeiros dias estávamos focando a construção da visão 2015 da AIESEC. Tudo era sobre a visão. Momento muito importante, pois todos os 700 delegados que estavam lá construiriam juntos o caminho pelo qual a organização vai seguir pelos próximos 5 anos. Durante os 10 dias tivemos várias sessões super interessantes e tivemos acesso a ferramentas usadas por grandes empresas para construção de direcionamentos.
No meio de tanto construção, fazia umas das coisas que mais gosto de fazer: observar as pessoas. Estava num mar de diversidade constituído por 110 nacionalidades diferentes. Observava como falavam, como gesticulavam, como resolviam situações, como se cumprimentavam, como reagiam à Índia, e principalmente me maravilhava com a paz e igualdade de todos. Era brasileiro falando de futebol com argentino, paquistanês conversando com indiano, religiões diferentes juntas, mil perspectivas e todos ali com a mesma vontade de mudar, de agir de forma positiva no mundo. Mágico.
Resumindo a conferência posso dizer que ao ajudar na construção da visão 2015 construí muito para mim mesma. Sempre durantes as sessões éramos levados a pensar sobre nosso papel na organização e no mundo, sobre nosso futuro e nossa própria visão. Incrível como aprendi muito sobre mim mesma. Principalmente que sim Letícia se você comer carne de vaca agora vai ter má digestão. Ai fudeu!
Depois desses 10 dias mágicos, sobre os quais poderia ficar escrevendo horas, parti pra segunda parte da viagem.
Depois de tanto tempo tentando decidir pra onde ir…devolve passagem, procura passagem de avião, trem, camelo, ou qualquer coisa que mova, perdi sessão, olha mais opções, aff compramos tudo. Podemos relaxar. Saímos do Taj, eu Babi e Marina (da TCS) e fomos jantar com alguns trainees que moram em Hyderabad e com a Ale (minha nova e querida amiga que a Índia me deu). Saímos do luxo do Taj e voltamos a realidade dos trainees. Bom que fomos nos acostumando com o que nos esperava.

Próximo capítulo:
- vacas, rio, corpos
- uma experiência acima de palavras….