domingo, 21 de fevereiro de 2010

Amritsar


16 de fevereiro – sem carnaval – blusa, short e 3 cobertores

Esse final de semana a família Kalkaji B toda (menos o Matt) e mais dois trainees de Kalkaji N partiram para Amritsar em Punjabi. Dez pessoas e eu pensando: esse trem não presta. Maior aventura pra sair do trabalho mais cedo e conseguir pegar o trem a tempo. Rickshaw até a estação de metro - metro - rickshaw de novo pra chegar em casa. Uma hora e meia e muitas rúpias depois cheguei tomei um banho rápido fechei a mala e vamo que vamo. Saímos com antecedência porque dia 12 é um dia auspicioso (e eles usam essa palavra mesmo...segurei pra não rir) para casamentos e casamentos na Índia geram engarrafamento. No trânsito, aquele desespero de não conseguir chegar e não vi nenhum casamento. Duas pessoas já estavam esperando a gente lá e tava difícil de achar. Fomos correndo pra plataforma e o trem tava atrasado por 1h. Decidimos ir pro restaurante da estação, surpreendentemente legal. 1h depois o trem foi atrasado por mais 1h. Fizemos uma roda de malas e sentamos em cima. Baralho. Observando o Asian Army (dois japoneses e um chinês que sempre ficam juntos) conversando. Adoro ver eles conversando, não sei porque. Deve ser porque o louco do Satoshi tá no meio. Quando voltar eu imito ele pra vocês hehehe. O trem finalmente foi anunciado, mas ainda esperamos um pouco na plataforma. De 10 em 10 min ele era atrasado mais 10 min. 2 horas e meia depois estávamos partindo a caminho de Amritsar. Durante esse tempo todo eu me perguntava se devia voltar pra casa. Tava com um resfriado e começando a ter sintomas de rinite alérgica. Mas não é que isso veio a calhar. Meu nariz tava entupido e não senti nenhum cheiro durante a jornada. O povo reclamou que o trem tava fedendo muito e que a estrada fedia mais ainda. Além disso tava com o olho pesado, sonolenta, dormi incrivelmente bem. Nem passei frio dessa vez. Chegamos lá atrasados e famintos e fomos pro hotel, reservamos um taxi pra nos levar à fronteira com o Paquistão e fomos almoçar. Depois de ter comido o melhor sorvete da vida em Viena (e não na Itália) comi o melhor brownie com sorvete da vida em Amritsar (e não nos EUA). Dai saímos correndo de jeep pra fronteira. O objetivo era ver a troca da guarda e a abertura do portão para que os países se cumprimentem. Chegamos lá e segurança bruta, revista, soldados armados até os dentes. As mulheres em fila separada e revistadas atrás de um tapume (isso acontece em todo lugar inclusive em baladas). Deve ter tapume pra ninguém ver a boa revistada que as militares fazem na gente principalmente na região peitoral. Passamos na guarda e fomos pra uma fila especial para estrangeiros. No local arquibancadas, a unidade do exército e o portão da fronteira. As arquibancadas ficam cheias de indianos que descem pro meu da rua pra dançar quando toca uma musica que eles gostam (todas) mostrando que povo feliz eles são pros paquistaneses. Do outro lado do portão a mesma coisa. Ai começa a troca de guarda. Chega um animador de platéia puxando uns gritos e pedindo pro povo gritar mais alto pra mostrar por outro lado. Dai ele leva o microfone pra um dos oficiais que começa a dar uns gritos, enquanto o oficial do Paquistão faz o mesmo. O objetivo é dar um grito grave e manter atté perder o fôlego (tipo competindo um lado com o outro). A cada dois gritos dois guardas saem e vão marchando até o portão, só que eles saem meio correndo e dão um chute levantando a perna até quase o nariz, haja flexibilidade. Ai vão marchando bem rápido fazendo cara de mal e quando chegam ao portão fazer uma coreografia com movimentos bem bruscos pra fazer medo no soldado do outro lado que tem coreografia bem parecida. A diferença é que no lado paquistanês eles balançam a cabeça de um jeito a valorizar o tipo de chapéu de eles usam. Ficam parecendo galos. (hum que vontade de ir no Mineirão) Ai ficam de frente uns pros outros e arrumam o chapéu fazendo um movimento com os braços tipo: olha como minha farda e mais bonita que a sua. Dai se viram de costas dão outro chutão e voltam . Trocam as bandeiras, a galera grita mais, o soldado grita mais, mais chutes e coreografias. Uma experiência antropológica. Saindo de lá fomos jantar numa Dabha Punjabi (restaurante típico, um pouco diferente da Dabha Mogol que a gente freqüenta em Delhi) e compramos bebidas pra levar por hotel Dessa vez não era dry day. Aff.
No dia seguinte acordamos tarde. Ninguém lembrou de colocar o celular pra despertar. Fomos tomar café correndo e fomos pro Golden Temple. O dia já começou atravessado no quesito comida. O café da manhã foi péssimo. Chegamos no templo e tava lotado. Entramos na fila que ia demorar umas 2h no mínimo. Em 15 min desistimos. Não íamos ter tempo. Fomos pra outra parte do templo e um Sikh veio perguntar se a gente tinha conseguido entrar porque ele tinha passe para estrangeiros. Era a segunda vez que a gente se aproveitava do fato de sermos estrangeiros. Furamos aquela fila enorme e me senti péssimaaa. Mas a gente não tinha tempo para esperar e ia ser o fim do mundo ir embora sem entrar no Golden Temple em si. Entramos e foi uma experiência inacreditável. Dentro do tempo ficam alguns músicos tocando uma música que quase te leva ao transe se você parar pra sentir. O templo é maravilhoso por dentro. Enquanto todo mundo saiu eu e Bea ficamos pra meditar um pouco. Mesmo não sabendo o que fazer e me sentindo um pouco infringindo leis tinha que me sentar e sentir aquela energia. Foi muito bom. A dor de cabeça foi embora. Quando saímos um outro Sikh veio conversar com a gente e explicar um pouco a história do templo e da religião Sikh muito comum no Punjabi. O Golden temple é o principal templo do Sikhsmo e foi construído pelo quarto guru dos sikhs. Os praticantes dessa religião podem ser reconhecidos pelos 5 elementos que eles usam. Turbante (pra proteger o computador kkkk), barba e cabelos longos, adaga (para proteção pessoal e para ajudar quem precisa), pulseira de prata usada na mão direita (que é a mão que faz tudo) e cueca larga (?????? Não quis perguntar pro tiozinho porque?) Fomos convidados pra tomar chai com eles. Parecia ótimo, mas tinha alguma coisa estranha com o leite que eu sabia que ia me fazer mal. Comemos uma comida muito pesada também, que no momento tava boa, mas depois…ui. Nesse templo eles oferecem comida e acomodação de graça (leia um teto e dormir no chão) para os peregrinos. Saímos correndo de volta pro hotel, demos uma olhada no bazar em volta e fomos pro estação de trem. Saímos na hora, mas a viagem de volta foi horrível. Meu nariz não estava mais entupido e comecei a me sentir mal por causa da comida. Depois de longas horas cheguei em casa tomei banho e fui trabalhar….eta vida Severina hehe.
A viagem foi corrida e vimos poucas coisas, mas aquele templo vai ficar na memória pra sempre.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Becoming Indianized

10 de fevereiro - camiseta, short e dois cobertores

Esses dias tava almoçando com o meu chefe e ele me perguntou como eu tava indo com a comida. Se gostava ou preferia a comida de casa. Eu disse que gostava muito, mas que às vezes tinha umas surpresas apimentadas. Mas a pimenta é forte até pra eles. Meu chefe pinga de suor todo dia almoçando hehe. A questão é que eles gostam. Se não estiver picante não tem graça. Ele elogiou minha habilidade pra comer com a mão (e olha que eu acho que sou bem iniciante ainda, engraçado que eu acho até que eles tem mais força nos dedos) e me perguntou se eu preferia de acompanhamento paratha (uma coisa entre pão e panqueca) ou arroz. E não é que eu prefiro paratha. O dia que não como sinto falta. Daí ele disse: É você está fully indianized. Será que isso é bom ou ruim? Ela tava falando de comida, mas se eu for me ajustando demais imagina como será eu dirigindo? Já tinha um certo gosto pela buzina, sozinha vou aumentar a poluição sonora da cidade e vou acreditar piamente que posso sim brigar com um ônibus. Vou parar de achar que só porque eu sou menor tenho menos força. Thheeke hai. E pra que retrovisor? Tá me vendo no sô? Ow bi bi (numa versão brasileira porque as buzinas aqui são super escandalosas). Alguns carros aqui nem tem retrovisor. Às vezes só o do lado do motorista e quando tem o outro ele fica dobrado. Afinal de contas um retrovisor são 5cm a menos de espaço para você se enfiar ali oh naquele buraquinho ali no meio...eu sei que cabe. Bom mas aí vou enfrentar um problema. Esses indianos tem uma noção de espaço muito boa, já eu, o para choque do meu falecido carro que o diga (nossa mas eu quero um crédito porque minha garagem era sinistra). Já a orientação é péssima que nem a minha. Pelo menos avaliando pelas motoristas de rickshaw que quase nunca sabem onde você quer ir. Esses dias peguei um engarrafamento sinistro na volta pra casa. Tava bem dormindo no ônibus (como é o ônibus da empresa é bem mais confortável e vazio que o ônibus da cidade). Quando acordei achei que estava no olho de um furação. Vários carros parados num cruzamento um do ladinho do outro, cada um virado pra um lado. Tinha uma moto que tava completamente na direção contrária, e nem a moto conseguia passar, era bem um do ladinho do outro. Não sei como esse trem funciona.
Às vezes gosto de almoçar com uma mocinha que senta no cubículo do lado. Ela se junta com um pessoal que trabalho numa outra sala. Acho ótimo porque posso fazer mais graça e eles racham de rir de qualquer coisa que eu falo. Quem me conhece sabe que eu preciso de uma platéia fácil kkkk (saudade das risadas: Márcia Elisa, Suiara, Cris, Amanda, Cocha, Nat, Marinninha e Vivi que até comecei a rir igual hehe). Desse grupo só sei o nome da vizinha porque meu problema com nome aqui se agravou bastante. O povo fala alguma coisa em hindi - nomes incluídos- eu repito e esqueço. Uma pena porque eles dizem que minha pronuncia é boa. Gosto de me juntar a eles também porque trocamos figurinhas sobre os países. Eles acham o máximo que já tive fazenda com cavalo. Um dia estávamos conversando sobre o qual era a melhor qualidade do povo de cada país. Eu disse a alegria e leveza do brasileiro e eles a facilidade de adaptação dos indianos. Indians can live anywhere ele disse. Tá vendo essa poltrona? Você tá aí sozinha, mas se precisar sentamos 3 ai. E realmente quem come tanta pimenta, passa tanto aperto e vê tanto coisa suja e tanta poeira vive em qualquer lugar. E sobre casamentos. Nossa como to doida pra ir num! A Irem ia me levar em um dos eventos (o casamento pode durar de 3 a 7 dias), mas adivinha: vou viajar de novo nessa sexta. Ela disse que em torno de 70% dos casamentos ainda são arranjados. Que agora a situação está um pouco mais flexível, mas não deve mudar. Hoje o pai do noivo escolhe uma noiva e eles podem se ver uma ou duas vezes por meia hora pra se conhecer. Então dizem se aceitam ou não. Pode dizer não? Pode, mas com um certo limite. Lá pro terceiro pretendente você já não vai ter muita escolha. Se eu entrasse nessa onda meu pai já estaria procurando um marido pra mim. Tô na idade já. Engraçado que a taxa de casamentos bem sucedidos é bem mais alta nos casamentos arranjados do que nos casamentos por amor. Acho que a noção de amor aqui é bem diferente. Na cultura ocidental você passa boa parte da vida procurando o príncipe encantado, ai se você der sorte e achar casa com o moço. Passa dois anos você separa porque ele deixa o sapato no meio da sala e arrota quando bebe cerveja grudado no sofá assistindo jogo. Aqui você não tem muita escolha então deixa o homem em paz hehe. (Espero que esse post nunca seja usado contra mim, olha que eu separo hein??)
Outra coisa interessante de observar aqui e como a economia é baseada no dia. Como eles estão acostumados com o fato de não saber bem como será o dia de amanha (atualmente, com o crescimento econômico do país a situação tem melhorado), então tudo é pensado no dia. O que vou comer hoje. Quanto dinheiro tenho pra gastar hoje. Por isso a maioria das embalagens são super pequenas (e incrivelmente difíceis de abrir - para abrir um pacote de lays, por exemplo, tem que rasgar). Ate as tupperware são pequenas. Quando vão abastecer o carro é bem comum colocar o mínimo de combustível necessário. Todo pensado no agora.
Durante o almoço aulinhas infrutíferas de hindi e depois do almoço caminhadinha pra sair um pouco do escritório. Uma piada. A parte externa do prédio fica lotada de gente andando pra lá e pra cá. Tipo passarela. Chega no fim dá meia volta e continua andando. Algumas poucas pessoas saem da empresa pra caminhar do lado de fora. Aqui por perto não tem restaurantes, então ou você traz comida de casa ou come do restaurante da empresa.
Aqui a sexta feira também é casual e algumas pessoas arriscam jeans e tênis. E ai - uuuhhuu - chega o esperado final de semana. Nossa fico morta aqui ate chegar sexta. A Índia cansa mais que o normal hehe. Nesse momento estou trabalhando com facilitação de reuniões e treinamentos. Estou definindo facilitação como competência (a partir dessa definição a empresa avalia os funcionários atuais e os que serão contratados) e estou fazendo um treinamento para facilitadores também. No meio tempo faço pesquisa de bibliografia e treinamentos que a empresa já possui para clientes internos. Vou começar a trabalhar num projeto em conjunto com a TCS - USA. Bem bacana.
Tive 2 finais de semana aqui em Delhi. A cidade e bem legal O centro bem mais organizado. Cheia de mercados (bazaars). Num dos finais de semana a Mari veio me visitar. Turistadinha básica. Primeiro no Lotus Temple que tava fechado...eh laia..e depois Humayuns's Tomb. Um lugar muito bonito que inspirou a construção de Taj Mahal. Dai fomos almoçar num restaurante muito bom na parte muçulmana da cidade. Na mesma rua tem um bazaar e ai sim deu pra ver o que é a Índia. Umas ruelas minúsculas, cheias de auto rickshaw e cycle rickshaw (versão bicicleta) e motos. Umas lojinhas que são açougue...nossa uma atração a parte como eles cortam a carne (segurando a faca com o pé) e fica tudo ali exposto sem geladeira. Meio nojento na verdade. Quando cheguei lá fiquei com medo do possivel revertério, mas a comida era ótima (muito óleo porém) e nada aconteceu. Esse restaurante - Karim's - foi eleito (não sei a data) o melhor dhaba (restaurante que serve comida local) da Ásia. O tataravô ou bisavó do dono era cozinheiro da cozinha imperial na época do Império Mogol. Cozinha Mogol tradicionalíssima. Do lada do restaurante tem uma mesquita gigantesca. Dai as 18:00 é hora de rezar e um cara fica cantando no auto falante. Bem desafinado, mas dá um ar diferente pro lugar. Nesse momento nenhum estrangeiro pode entrar na mesquita.
Segundo final de semana em Delhi, foi mais voltado pras comprinhas. Fomos ao Red Fort, um forte gigantesco na parte velha da cidade, mesma área dos muçulmanos. No domingo saímos só as meninas da casa, eu, Bea e Kim pra um bazzar famoso pelas roupas baratas. Nossa mas é muito barato mesmo. Gastei uns 80,00 reais e comprei 6 blusas, 2 calcas, 1 carteira, 1 cinto e umas pulseiras. Mas vou dizer: tem que ter muita força de vontade. A maioria das roupas são de marca (que são fabricadas na Índia e vendidas pelo quíntuplo ou mais do preço depois da etiqueta). Milhões de peças empilhadas pelas barracas. Uma poeira louca. Muita gente na rua. Você tentando pechinchar. Pechincha é a lei. Quando chegamos um cara veio oferecer óculos. Disse que era 1.200 rupias. A gente deu uma boa risada na cara dele. A Kim já tinha quase comprado por 100. Daí ele disse: Quanto paga então madan? Te dou 100 rupias. Ai Madan muito pouco, faço por 1.100. Não! Meu preço final é 100. Depois de um pouco de lero lero ele disse ok ok 100. Nossa fiquei meio assustada. Ia ter que barganhar de verdade o dia todo. Não pensava que ia variar tanto. Mas de enganação exorbitante foi só esse cara mesmo. Funciona assim: Você pergunta quanto. Te falam um preço. Você diz que paga a metade. Eles dizem não. Você diz: Ai baia eu vivo aqui eu sei o preço das coisas. Ele diz: Mas Madan. Você diz: Final price. Ele diz não. Você faz cara de desdém (nem queria mesmo) e sai. Vem o cara e te buscar na loja do lado: ok ok madan. É legal, mas na segunda loja já enche o saco. Daí chega em casa e deixa a roupa de molho com desinfetante por causa da poeira. O Gergo resolveu cozinhar para todos, Jantarzinho em família. Está virando até tradição. Se não estamos viajando alguém cozinha o jantar de domingo. O próximo e da Bea e depois eu. Ai será que vai dar certo?



Próximo post mais uma viagem. Bão demais.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Jaipur e Jodhpur



3 de fevereiro - 1 blusa e 3 cobertores

No meu primeiro final de semana em Delhi já estava planejando pegar estrada. Juro que nem foi culpa minha, mas todos da minha casa iam viajar. Para os que moram em Delhi viajar no final de semana é quase lei. Aqui no norte temos 3 estados bem famosos: Rajasthan, Punjab e Utter Pradesh. Tem uma concentração enorme de cidades interessantes relativamente perto. Algumas são 12 horas de distância, meio longinho, mas rola. 12h, mas são tipo 600 a 700km...triste hehe.
Primeiro destino: Jaipur. A cidade é bem famosa e faz parte do triângulo do norte da Índia (Agra, onde fica o Taj Mahal, Jaipur e Delhi). Como as passagens de trem estavam esgotadas fomos de ônibus. Fui bem jacu com cobertor na mala e tudo. Não tava afim de congelar durante as 6 horas de viagem madrugada adentro. A expectativa pra ver o ônibus era grande. Mas foi tudo normal, igual no Brasil. Duas das meninas que iam com a gente ainda não tinham chegado, o motorista ligou o ônibus...ai meu deus..peraí moço. E a gente já pensando em descer no ônibus pra dar mais uma enrolada. Dai chegam as duas correndo. O motorista do rickshaw obviamente parou no lugar errado. Todo mundo presente. Vamo que vamo. Chegamos em Jaipur antes de amanhecer então fizemos uma horinha no restaurante da rodoviária. Quando decidimos sair pra procurar um hotel fomos atacados por motoristas de rickshaw querendo levar a gente "pra um bom hotel". Todos eles ganham comissões em hotéis e lojas, um saco fugir deles. Achamos um lugar legalzinho e fomos tomar café da manhã num restaurante com terraço. A Bea e afixada por restaurantes no terraço. Eu até entendo porque a temperatura em Jaipur tava bem mais alta com direito a sol. Pegar um solzinho nos fez muito bem. Dai mais acordos com os motoristas de rickshaw...precisamos de dois...dai combina preço, descombina, o cara fala um preço e você diz que paga a metade, por mais algumas rúpias você espera a gente e nos leva pra outro lugar. Ok Baia? (Baia e tipo amigo em hindi) Ok. Então vamos pro Amber Fort. Amber é uma cidadezinha dentro de Jaipur que foi construída pelo Maharaja. O forte é lindo e cheio de encantador de cobras. Deus que me livre guarde. Odeio cobra. Você paga umas 200 rupias (tipo R$ 8,00) e senta com o cara, coloca a cobra no pescoço enquanto ele toca a musiquinha (que eu adoooro, instrumentos muito legais e diferentes) Bom passei longe, mas agora já me decidi que vou vencer esse medo e antes de ir embora vou dançar com uma cobra. Sem pressa gente eu ainda tenho 11 meses. No forte pegamos um guia pra contar as histórias de lá pra gente. Provavelmente escutamos umas boas mentiras, mas o cara é barato e a gente se diverte. No meio de uma explicação lá vem um indiano falando um inglês macarrônico. Entendemos que ele queira que a gente tirasse uma foto dele e da esposa. Mas não. A esposa queria tirar foto com a gente. Nossa aquele tanto de firange junto...atração turística na certa. Dai comecei a reparar que realmente as pessoas ficam olhando pra gente, dando tchauzinho, estendendo a mão. As crianças então adoram. Todas falam Hello e quem sabe pergunta: What's your name? O último Maharaja que morou lá teve 12 esposas. A preferida era a Rainha principal e usava uma roupa diferente em ocasiões especiais que pesavam 50kg. Como a coitada não aguentava o peso usava uma cadeira de rodas. Que coisa não? Isso explica a quantidade de rampas. Lá moravam as 12 esposas e como a vida era bem chata elas levavam as amigas pra morar junto, eram as concubinas. No total eram 200 mulheres no forte. Isso só pode dar merda. As esposas não podiam sair do palácio, salvo quando iam pra outro palácio, então as concubinas faziam as compras pra elas. As esposas também não podiam se encontrar no palácio a não ser que fosse no pátio das mulheres e com o Maharaja vigiando por uma varanda que só ele tinha acesso. As janelas do palácio são todas cobertas por um emaranhado (vide foto pela incapacidade da mocinha aqui de explicar como as janelas são) que permitiam uma visão bem limitada para fora do palácio e visão bloqueada para dentro. Isso pra que ninguém visse as mulheres e para que elas não vissem bem as coisas lá de fora. Em alguns palácios os buraquinhos das janelas estão direcionados para baixo, permitindo uma visão da rua e das lojas mesmo nos andares mais altos. No meio do forte tem a sala de reuniões. Só os homens podiam ir para essas salas e as mulheres ficavam observando de longe através da janelas com visão reduzida. Em outro canto a sala de dança e o jardim das mulheres. Parte desse forte ainda pertence ao atual Maharaja então não podemos ver os aposentos. De lá vi meu primeiro elefante. Ah bonitinho demais. Voltamos pra cidade à caça de um restaurante que parece confiável. Ninguém afim de passar mal. Dai mais negociações com rickshaw dessa vez sem muito sucesso então inventamos de pegar uma carroça. Fui na parte de trás e nunca me senti tão vulnerável com aquele tanto de carro, rickshaw, ônibus e caminhão, todos loucos para tirar a carroça da frente. O povo de bicicleta chegava bem perto e se divertia com a cara de turistas bestas assustadas e se divertindo horrores que eu e Bea fazíamos. Povo tirando foto da gente e a gente fazendo vídeo. Hello! Where are you from? Welcome to Índia! Sobrevivemos. Mais palácio, museu, comprinhas. Como vou ficar aqui mais de 180 dias tenho que me registrar na imigração. Isso me faz uma cidadã indiana. Are baba. Dai eu pago menos pra entrar nos lugares turísticos. A diferença às vezes é gritante tipo de 250 pra 10 rupias. A noite fomos para uma vila bem turisticazinha na verdade, mas bonitinha. Dai tivemos um jantar tradicional do Rajasthan. sentamos no chão e nem uma vaga lembrança de talheres. Não gostei muito da comida e misturavam coisa doces com salgadas, mas sobrevivi. Demos uma voltinha de elefante hehe. Adorei. Noite bem relax. Nem sombra de baladas ou barzinhos e vamos confessar a gente tava pior que um bando de velinhos. No outro dia mais lugares turísticos dentre eles Jantar Mantar, que é tipo um laboratório astronômico enorme construído pelo Maharaja que fez a cidade. Ele era um astrônomo muito famoso. O trem cheio de construções grandinhas, tipo relógio solar super preciso, coisas para ver a posição das estrelas e por aí vai. Visita ao Mawa Mahal, palácio simplesmente lindo. Depois busão de volta para casa. Lá se foi nosso solzinho.
Antes de sair de BH meu pai me falou:" Vai achar sua mãe na Índia." Na hora não entendi muito. Ela veio aqui há uns 25 anos atrás. Não sei se fiquei impressionada com o que meu pai falou, mas a questão é que aqui me sinto mais próxima dela. Uma engraçada sensação de estar vendo as coisas através dos olhos dela. É ótimo ver as coisas que via nas fotos. Tudo parecia tão distante agora tão perto.

Depois primeiro final de semana em Delhi. Ai finalmente vou conseguir ver a cidade direito. Os rickshaws daqui são mais altos então minha visão se ampliou hehe. A cidade é o oposto do que estamos acostumados a ver. O centro é calmo e os bairros são loucamente cheios. Umas turistadinhas com a Mari Moura. Mas vou falar disso um pouco mais em um outro post.

Vamos pro fim de semana passado em que, novamente, todos iam viajar. Dai lá se vai eu também. Pra Jodhpur. A cidade é menorzinha e não tinha muita coisa pra ver. Bem suja com um mercado louco, cheia de ruelas.A cidade é conhecida como cidade azul. (ah esqueci de falar que Jaipur e a cidade rosa). A maioria das casas são pintadas de azul porque a cor espanta mosquitos. E eu crente que era algo espiritual. Bom espero que dê certo porque no verão lá faz 45 a 50 graus...com mosquitos uiui que dureza. Bom, em Delhi não vai ser diferente hehe. Dessa vez fizemos a viagem de trem. O famoso trem da India. E bem estranho mesmo. Pegamos um vagão que tem camas. Uma em cima presa no teto e uma em baixo nos dois lados. Uai mas não eram 6 camas? Então...o encosto da cama debaixo vira a cama do meio. Ui que aperto. Mas depois que você deita tá de boa. Se você conseguir dormir mesmo com um cara gritando: Chaieeeeeeeeee...Chaieeeeeeeee chega de viagem novo. 12 horas depois estávamos lá. Fomos visitar o forte da cidade. Esse povo adora forte hehe. Ainda mais lindo e maior que o de Jaipur. Na subida uma vista muito legal ao som de uma música que parecia permear a cidade toda. Dessa vez deu pra ver alguns aposentos porque o Maharaja mora com mais 4 membros de sua pequena família em outro palácio com 200 cômodos. Mas calma. Ele vendeu parte do palácio para o grupo Tata (by the way não tem desconto pra funcionário...achei chato isso. Mas cá entre nós acho que nem com 90% de desconto eu conseguia pagar a estadia na Cadeia The Taj hehe) e ficou com só 50 aposentos pra ele. Dai fomos almoçar e a cena mais engraçada do dia: um menininho lambendo cal da parede. A gente ficou olhando e ele levantou o rosto todo sujo de cal. Ai que pinóia do moleque hehe. Ele nem ligou pra gente e continuou lambendo. Ah mas tá bom, ele precisa desenvolver resistência à bactérias e cal deve ter cálcio né? De lá fomos pra Clock Tower e o mercado de temperos e bugigangas em geral. Fizemos umas comprinhas, ganhei um pingente em formato de Ganesha e fomos jantar. Aqui a gente era mais atração que em Jaipur. As crianças seguem a gente dando tchau. No outro dia visitamos um crematório maravilhoso com uma vista linda da cidade e depois um jardim que estava sendo reformado. Foi interessante para ver como e a vida dominical do povo de lá. Domingo no parque, os homens jogando críquete, paixão nacional, e as mulheres jogando um outro jogo parecido com peteca, uns vendedores de picolé (quase morri de vontade, mas não tive coragem hehe. Aqui pra comer picolé só se for Mother Dairy ou da Kibon que tem outro nome que não me recordo - agora de arrepende de não ter tirado foto de todos os diferentes nomes que a Kibon tem enquanto eu viajava pela Europa. Até aqui tem. Da quase a coleção de colgate que eu queria fazer kkkk, achei ate em árabe). Depois lonnngo almoço pra tomar um solzinho, claro num restaurante com terraço. Viajando com essas pessoas me viciei em Lassi (bebida de fruta com iogurte - só não gosto quando eles inventam de por sal no trem. Por quê?????) e em comer em restaurantes com terraço. Café da manhã e almoço com sol por favor. Trem de volta pra Delhi. Dessa vez dormi direito, mas por um bom tempo fiz muita força pra não matar o fulaninho do Chaieeeeeeeeeeee. Chaieeeeeeeee.


Essa semana fiz 1 mês de Incredible India e arranquei a primeira folhinha do calendário argentino que a Vivi me deu. E Vamo que vamo gente.