quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Becoming Indianized

10 de fevereiro - camiseta, short e dois cobertores

Esses dias tava almoçando com o meu chefe e ele me perguntou como eu tava indo com a comida. Se gostava ou preferia a comida de casa. Eu disse que gostava muito, mas que às vezes tinha umas surpresas apimentadas. Mas a pimenta é forte até pra eles. Meu chefe pinga de suor todo dia almoçando hehe. A questão é que eles gostam. Se não estiver picante não tem graça. Ele elogiou minha habilidade pra comer com a mão (e olha que eu acho que sou bem iniciante ainda, engraçado que eu acho até que eles tem mais força nos dedos) e me perguntou se eu preferia de acompanhamento paratha (uma coisa entre pão e panqueca) ou arroz. E não é que eu prefiro paratha. O dia que não como sinto falta. Daí ele disse: É você está fully indianized. Será que isso é bom ou ruim? Ela tava falando de comida, mas se eu for me ajustando demais imagina como será eu dirigindo? Já tinha um certo gosto pela buzina, sozinha vou aumentar a poluição sonora da cidade e vou acreditar piamente que posso sim brigar com um ônibus. Vou parar de achar que só porque eu sou menor tenho menos força. Thheeke hai. E pra que retrovisor? Tá me vendo no sô? Ow bi bi (numa versão brasileira porque as buzinas aqui são super escandalosas). Alguns carros aqui nem tem retrovisor. Às vezes só o do lado do motorista e quando tem o outro ele fica dobrado. Afinal de contas um retrovisor são 5cm a menos de espaço para você se enfiar ali oh naquele buraquinho ali no meio...eu sei que cabe. Bom mas aí vou enfrentar um problema. Esses indianos tem uma noção de espaço muito boa, já eu, o para choque do meu falecido carro que o diga (nossa mas eu quero um crédito porque minha garagem era sinistra). Já a orientação é péssima que nem a minha. Pelo menos avaliando pelas motoristas de rickshaw que quase nunca sabem onde você quer ir. Esses dias peguei um engarrafamento sinistro na volta pra casa. Tava bem dormindo no ônibus (como é o ônibus da empresa é bem mais confortável e vazio que o ônibus da cidade). Quando acordei achei que estava no olho de um furação. Vários carros parados num cruzamento um do ladinho do outro, cada um virado pra um lado. Tinha uma moto que tava completamente na direção contrária, e nem a moto conseguia passar, era bem um do ladinho do outro. Não sei como esse trem funciona.
Às vezes gosto de almoçar com uma mocinha que senta no cubículo do lado. Ela se junta com um pessoal que trabalho numa outra sala. Acho ótimo porque posso fazer mais graça e eles racham de rir de qualquer coisa que eu falo. Quem me conhece sabe que eu preciso de uma platéia fácil kkkk (saudade das risadas: Márcia Elisa, Suiara, Cris, Amanda, Cocha, Nat, Marinninha e Vivi que até comecei a rir igual hehe). Desse grupo só sei o nome da vizinha porque meu problema com nome aqui se agravou bastante. O povo fala alguma coisa em hindi - nomes incluídos- eu repito e esqueço. Uma pena porque eles dizem que minha pronuncia é boa. Gosto de me juntar a eles também porque trocamos figurinhas sobre os países. Eles acham o máximo que já tive fazenda com cavalo. Um dia estávamos conversando sobre o qual era a melhor qualidade do povo de cada país. Eu disse a alegria e leveza do brasileiro e eles a facilidade de adaptação dos indianos. Indians can live anywhere ele disse. Tá vendo essa poltrona? Você tá aí sozinha, mas se precisar sentamos 3 ai. E realmente quem come tanta pimenta, passa tanto aperto e vê tanto coisa suja e tanta poeira vive em qualquer lugar. E sobre casamentos. Nossa como to doida pra ir num! A Irem ia me levar em um dos eventos (o casamento pode durar de 3 a 7 dias), mas adivinha: vou viajar de novo nessa sexta. Ela disse que em torno de 70% dos casamentos ainda são arranjados. Que agora a situação está um pouco mais flexível, mas não deve mudar. Hoje o pai do noivo escolhe uma noiva e eles podem se ver uma ou duas vezes por meia hora pra se conhecer. Então dizem se aceitam ou não. Pode dizer não? Pode, mas com um certo limite. Lá pro terceiro pretendente você já não vai ter muita escolha. Se eu entrasse nessa onda meu pai já estaria procurando um marido pra mim. Tô na idade já. Engraçado que a taxa de casamentos bem sucedidos é bem mais alta nos casamentos arranjados do que nos casamentos por amor. Acho que a noção de amor aqui é bem diferente. Na cultura ocidental você passa boa parte da vida procurando o príncipe encantado, ai se você der sorte e achar casa com o moço. Passa dois anos você separa porque ele deixa o sapato no meio da sala e arrota quando bebe cerveja grudado no sofá assistindo jogo. Aqui você não tem muita escolha então deixa o homem em paz hehe. (Espero que esse post nunca seja usado contra mim, olha que eu separo hein??)
Outra coisa interessante de observar aqui e como a economia é baseada no dia. Como eles estão acostumados com o fato de não saber bem como será o dia de amanha (atualmente, com o crescimento econômico do país a situação tem melhorado), então tudo é pensado no dia. O que vou comer hoje. Quanto dinheiro tenho pra gastar hoje. Por isso a maioria das embalagens são super pequenas (e incrivelmente difíceis de abrir - para abrir um pacote de lays, por exemplo, tem que rasgar). Ate as tupperware são pequenas. Quando vão abastecer o carro é bem comum colocar o mínimo de combustível necessário. Todo pensado no agora.
Durante o almoço aulinhas infrutíferas de hindi e depois do almoço caminhadinha pra sair um pouco do escritório. Uma piada. A parte externa do prédio fica lotada de gente andando pra lá e pra cá. Tipo passarela. Chega no fim dá meia volta e continua andando. Algumas poucas pessoas saem da empresa pra caminhar do lado de fora. Aqui por perto não tem restaurantes, então ou você traz comida de casa ou come do restaurante da empresa.
Aqui a sexta feira também é casual e algumas pessoas arriscam jeans e tênis. E ai - uuuhhuu - chega o esperado final de semana. Nossa fico morta aqui ate chegar sexta. A Índia cansa mais que o normal hehe. Nesse momento estou trabalhando com facilitação de reuniões e treinamentos. Estou definindo facilitação como competência (a partir dessa definição a empresa avalia os funcionários atuais e os que serão contratados) e estou fazendo um treinamento para facilitadores também. No meio tempo faço pesquisa de bibliografia e treinamentos que a empresa já possui para clientes internos. Vou começar a trabalhar num projeto em conjunto com a TCS - USA. Bem bacana.
Tive 2 finais de semana aqui em Delhi. A cidade e bem legal O centro bem mais organizado. Cheia de mercados (bazaars). Num dos finais de semana a Mari veio me visitar. Turistadinha básica. Primeiro no Lotus Temple que tava fechado...eh laia..e depois Humayuns's Tomb. Um lugar muito bonito que inspirou a construção de Taj Mahal. Dai fomos almoçar num restaurante muito bom na parte muçulmana da cidade. Na mesma rua tem um bazaar e ai sim deu pra ver o que é a Índia. Umas ruelas minúsculas, cheias de auto rickshaw e cycle rickshaw (versão bicicleta) e motos. Umas lojinhas que são açougue...nossa uma atração a parte como eles cortam a carne (segurando a faca com o pé) e fica tudo ali exposto sem geladeira. Meio nojento na verdade. Quando cheguei lá fiquei com medo do possivel revertério, mas a comida era ótima (muito óleo porém) e nada aconteceu. Esse restaurante - Karim's - foi eleito (não sei a data) o melhor dhaba (restaurante que serve comida local) da Ásia. O tataravô ou bisavó do dono era cozinheiro da cozinha imperial na época do Império Mogol. Cozinha Mogol tradicionalíssima. Do lada do restaurante tem uma mesquita gigantesca. Dai as 18:00 é hora de rezar e um cara fica cantando no auto falante. Bem desafinado, mas dá um ar diferente pro lugar. Nesse momento nenhum estrangeiro pode entrar na mesquita.
Segundo final de semana em Delhi, foi mais voltado pras comprinhas. Fomos ao Red Fort, um forte gigantesco na parte velha da cidade, mesma área dos muçulmanos. No domingo saímos só as meninas da casa, eu, Bea e Kim pra um bazzar famoso pelas roupas baratas. Nossa mas é muito barato mesmo. Gastei uns 80,00 reais e comprei 6 blusas, 2 calcas, 1 carteira, 1 cinto e umas pulseiras. Mas vou dizer: tem que ter muita força de vontade. A maioria das roupas são de marca (que são fabricadas na Índia e vendidas pelo quíntuplo ou mais do preço depois da etiqueta). Milhões de peças empilhadas pelas barracas. Uma poeira louca. Muita gente na rua. Você tentando pechinchar. Pechincha é a lei. Quando chegamos um cara veio oferecer óculos. Disse que era 1.200 rupias. A gente deu uma boa risada na cara dele. A Kim já tinha quase comprado por 100. Daí ele disse: Quanto paga então madan? Te dou 100 rupias. Ai Madan muito pouco, faço por 1.100. Não! Meu preço final é 100. Depois de um pouco de lero lero ele disse ok ok 100. Nossa fiquei meio assustada. Ia ter que barganhar de verdade o dia todo. Não pensava que ia variar tanto. Mas de enganação exorbitante foi só esse cara mesmo. Funciona assim: Você pergunta quanto. Te falam um preço. Você diz que paga a metade. Eles dizem não. Você diz: Ai baia eu vivo aqui eu sei o preço das coisas. Ele diz: Mas Madan. Você diz: Final price. Ele diz não. Você faz cara de desdém (nem queria mesmo) e sai. Vem o cara e te buscar na loja do lado: ok ok madan. É legal, mas na segunda loja já enche o saco. Daí chega em casa e deixa a roupa de molho com desinfetante por causa da poeira. O Gergo resolveu cozinhar para todos, Jantarzinho em família. Está virando até tradição. Se não estamos viajando alguém cozinha o jantar de domingo. O próximo e da Bea e depois eu. Ai será que vai dar certo?



Próximo post mais uma viagem. Bão demais.

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