quinta-feira, 18 de março de 2010

Dharamshala e Dalai Lama

17 de março – short, blusa, lençol e ventilador

É já ta ficando quente. Mas por enquanto nada muito alem do calor belo horizontino.

Hoje venho aqui contar sobre a viagem para Dharamshala. A melhor e mais despreparada viagem de todos os meus tempos indianos. Na quinta demos a louca e decidimos tentar pegar um ônibus na sexta pra lá. Sem saber muito bem onde ir. Aqui não tem uma rodoviária propriamente e quando tem é um verdadeiro amontoado de ônibus. Quando se viagem no shity indian bus a passagem tem que ser comprada na hora. E descobrir o horário que o ônibus sai e quase impossível. Então mochila nas costas e rumo ao local de partida dos ônibus. Pegamos o shity bus, assim como em Jaipur, só que dessa vez a viagem durava 12h. Nossa, depois de duas horas a gente já não se aguentava mais de desconforto. Nenhuma posição servia pra dormir. Até que a Kim conseguiu umas poltronas vazias e se deitou. Depois veio me chamar pra trocar de lugar, daí eu ia conseguir dormir também. Quando acordei no meio da madrugada pra chamar a Ellen (fomos as 3 mocinhas) vi que cada uma estava ocupando um lugar. Os indianos todos apertados sentadinhos e a gente na maior folga. Acho que pela primeira vez fomos mais espertas e rápidas que eles. De manhã quando acordei fiquei reparando a estrada. Lindas montanhas. Paisagem maravilhosa. Dai vi como a estrada era cheia de curvas…nossa lá vai eu ficar enjoada. Mas não…fiquei bem. Tava pensando: ah até que a estrada é boa, espaçosa. De repente vem um caminhão na direção contrária. Aahh o motorista tá dirigindo no meio da estrada, mas não é mão única não hehe. A estrada na verdade era bem estreita. Mas bem o motorista parecia saber o que fazia. Por fim dormi de novo que era pra não sofrer hehe.
Chegamos em Dharamshala e pegamos outro ônibus (local) para Mcleod Ganj (onde realmente o turismo acontece). Estávamos super sem saber o que fazer. Café da manhã com Lonely Planet nosso pastor. Decidimos ver o templo, fazer uma aula de yoga e depois aula de culinária tibetana.
Mcleod Ganj é a cidade dos refugiados do Tibet e onde nossa santidade O Dalai Lama mora. A diferença de ambiente é nítida. Cidade calminha nos pés dos Himalays cheia de gente com o olho puxadinho. Milhões de freiras e monges budistas, todos com a mesma roupa e cabeça raspada. A cidade e bem mais fria, mas tem um ar bem aconchegante.
Chegando no templo vimos que todos estavam subindo pra o outro nível fazer não sei o que. Descobrimos que precisávamos nos registrar e que não dava mais tempo. Aff. Ficamos presas na parte de baixo e lá realmente não tem nada. De repente no auto falante um monge começa a rezar. A coisa mais estranha que já ouvi. Uns sons guturais...meio cantado. Mais grave que canto gregoriano. Então resolvemos sentar pra ouvir. Eis que me vem um canadense e pergunta por onde o Dalai Lama ia passar. Hein????? Ele tá aqui???? Vê-lo aqui é quase impossível. O cara é super pop e vive viajando, mas não é que fomos no dia e hora certos. Perguntei pra um segurança. Você quer ver nossa santidade? Senta aqui...ele vai passar daqui uns minutos. Nossa que emoção. Todo mundo sentadinho no chão. Os seguranças fecham a passagem com cordas de contenção e a comitiva começa a passar. Me pergunto se vou distinguir ele. Todo mundo igual hehe. Mas eis que ele passa com aqueles oclinhos inconfundíveis. Uma paz que só. Todos se curvam e juntam as mãos para reverenciá-lo. Eu boba paralisada até que levei um tapinha de uma moça e me abaixei também. Lá estava ele a distância do meu braço esticado. Podia ter encostado, mas não queria ser presa hehehe. Então ele sobe pro templo. Dai entendi porque todos estavam subindo. Ele ia ensinar. Sentamos no térreo mesmo e ficamos ouvindo pelo auto falante. Só que era em tibetano. Acho que pela formação da língua, mas ele fala umas 200 palavras por segundo.
Estávamos gostando, mas não entendendo nada então decidimos ir pra aula de yoga. Eu com o cóccix doendo há duas semanas depois que cai achando que posso jogar capoeira hehe. Aula muito legal, relaxante, meditamos, me estiquei toda. Meu cóccix nunca mais doeu.
O yogi era bem doirão, todo zen e vamos celebrar o amor. Um peçaa rara. Nos contou sobre a vida dele e a prática de yoga. Disse que no outro dia ia visitar o guru dele e perguntou se gostaríamos de ir. Achei meio estranho, mas a Kim endoidou, bem o que ela queria uma Ashram (local onde se pratica yoga e meditação) nas montanhas.
De lá fiz umas comprinhas (lugar ótimo pra compras) e fomos pra aula de culinária. Aprendemos a fazer momos, um tipo de pastel tibetano cozido no vapor. Super fácil de fazer, mas dá um trabalhinho hehe. O melhor da aula foi poder conversar com o professor. Quando tinha 20 anos fugiu do Tibet com um amigo. Passaram 28 dias nas montanhas, na neve tentando entrar na Índia. Após a invasão da China o budismo foi proibido e o Dalai Lama banido. A pressão política da China sobre o Tibet é enorme. Tudo é controlado. Agora até mesmo pra usar a internet é preciso se registrar no governo. E todos os sites acessados são rastreados por eles. O professor disse que tudo é extremamente controlado. Inclusive o que você pensa. Sai da linha e é punido. Perguntei o que o levou a fugir. Ele me disse que muitas pessoas fogem somente para ver o Dalai Lama. Escolha difícil porque uma vez foragido do Tibet não há como voltar. Ele disse que esse foi um dos motivos, mas queria liberdade de pensamento. “Minha mente é livre e sem limites, quero poder pensar o que quiser.” Conversamos sobre opressão da China, economia e política mundial, foragidos, de como a fuga acontece. Ele não vê e nem fala com a família há 8 anos e não tem a menor perspectiva de que isso aconteça. Se ele liga pra família ou até mesmo manda uma carta o governo vai saber e pode puni-los. “Pela segurança deles não me comunico. Foi uma escolha minha fugir.” Bem sofrido isso. Fiquei pensando na mãe dele. Ele nos contou também sobre o budismo e a proposta de tolerância. A questão é sempre buscar ser uma pessoa melhor e feliz. Buscar a felicidade do outro também. Sua fé, seu país, sua cor, sua facção política não interessam. O que interessa e a busca do equilíbrio e paz interior e exterior. Não é necessário ser budista para praticar budismo. Fiquei muito interessada em saber mais, mas tínhamos que voltar pro hotel. Comprei um livro do Dalai Lama na volta.
Essa foi a primeira viagem desvinculada da galera e da bagunça. Fomos as 3 mocinhas na busca de relaxar um pouco da loucura de Delhi. Dessa vez senti bem a cidade, conversei com pessoas que moram lá, conheci histórias, aprendi. Depois de um dia tão despretensioso e mágico, só porque eu tinha falado para uma amiga que estava sobrevivendo bem a Índia, tive minha primeira zica. Não sei bem o que foi, intoxicação alimentar provavelmente. No outro dia ainda me sentia mal e nem conseguia me mexer direito. Não fui pra ashram e só depois de muita insistência minha as meninas foram. Passei o dia na cama e não consegui comprar o jornal tibetano da Marcelle e nem a pimenta tibetana pro Leandro. Estava bastante preocupada sobre a volta. O ônibus seria melhor, mas eram 12h de viagem numa estrada em espiral. Os ônibus da Índia não tem banheiro. Uiui. Tomei um remédio de viajante que eu chamo de rolha. Prende tudo kkkk. Tomei um dramim segurei na mão de Deus e fui. Cheguei viva em Delhi as 6 da manha e 7:30 estava saindo de casa pra pegar o ônibus da empresa. Força na peruca. E vamo que vamo.

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