quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mais perto do céu

14 de Abril - Short, blusa e ar condicionado comendo solto

Feriado a vista, planos traçados. Virei mãe e guia turística hehe. No primeiro final de semana de Abril fomos pra Manali. Tipo de lugar que nunca pensei ver por aqui. Em se tratando de Índia acho que nosso imaginário sempre será ignorante. Depois de visitar cidades no deserto, cidades enormes e insanas, planejar idas pras praias do sul, cá estava eu indo pras montanhas geladas. Sai do calorzão de Delhi e fui pros pés congelantes dos Himalaias. Lugar simplesmente fascinante. Montanhas enormes com neve no pico, céu azul, lindo, ar puro, cachoeiras, natureza fantástica. Com certeza mais pertinho do céu.
Partimos na quinta à tarde. Saí do trabalho e fui pra parada do ônibus (aqui não tem rodoviária direito) de metro com o Niels. No caminho o resto do povo liga dizendo que os rickshaws entraram de greve e tava difícil de chegar. O governo de Delhi pretende acabar com o transporte privado (rickshaws no meio), dai nossos bahyas motoristas resolveram mostrar que são necessários. Vixi nem vi a cidade direito, mas deve ter sido um caos. Hora do ônibus partir, aflição, mas todos a bordo. Incredible India, you just have to try harder - esse é meu novo lema.
No caminho as 14 horas de viagens foram interrompidas por um jacu sem nada pra fazer que jogou uma pedra na janela do ônibus. Isso nos atrasou duas horas. Um tanto de indiano tentando arrumar uma gambiarra pra podermos continuar a viagem. Eu me segurando pra não dar palpite. Resolvi dormir. Acordei em Manali. Desci do ônibus e senti a força da altitude. Achei que não ia sentir, a cidade não é tão alta, mas lá estava eu brigando com um motorista pra levar a gente pela metade do preço que ele queria cobrar e fica tudo preto. Uiui vamos respeitar as montanhas.
Fomos direto pra uma agência de um francês gente boa. Já tava tudo quase no esquema, só faltava escolher as atividades e pechinchar o preço. Tudo certo! A aventura começa.
Primeiro dia rafting. Fomos de jeep pro rio. Cidade cheia de jeeps acelerando e passando marcha pra lá e pra cá...ai adoooro o barulho (cada um com suas esquisitices). No caminho queixos caídos. Não importava quantas vezes a gente passasse no mesmo lugar a reação era a mesma. Contemplação total. Silêncio. Era só entrar num carro que todo mundo ficava calado. Acho que a paisagem e a música tibetana de fundo nos levava pensar na vida. Além disso, meu pensamento tava longe aquele final de semana. Era roubado com facilidade. Respira fundo. Mas ai desce do carro e a falação começava de novo. A Ellen se encarregava de 90%. Se alguém acha que eu falo muito, pois é a Ellen fala mais. Começamos a descer as corredeiras. Todos marinheiros de primeira viagem. Fui logo pegando um remo e vamo que vamo. Água incrivelmente gelada. Mesmo assim o guia do bote conseguiu nos convencer de pular. Culpa da minha empolgação. Achei que ia virar pedra. Gelado, mas revigorante. Depois remava que nem uma louca pra ver se esquentava. Mais corredeiras e saímos de rio. Minha brasilidade não deixou nenhuma roupa impermeável passar dos quadris, então tava toda ensopada e ainda ia demorar uns 20 min de jeep pra voltar. Uiui. Chai antes de voltar pro hotel. Chai na chegada. Banho quente. Tava nova.
Segunda dia. O mais esperado. Fomos voar de paraglider. Mais voltinha de jeep e pensamentos furtivos que logo foram levados a realidade de novo. A gente ia ter que escalar a montanha pra chegar na plataforma. Os guias que sobem todos os dias umas 5 veses naquela velocidade e a gente só na falta de ar. Chegamos e todo mundo passando a vez pro outro. O que??? Ninguém quer ir eu vou primeiro demaissss. Equipamento. Corre um pouquinho e relaxa. Depois de ver a vista por baixo de dentro do rio, agora a visão maravilhosa de cima. Claro que minha câmera quase caiu lá de cima. Pousei estrategicamente sentada em cima de um barranco kkkk. E fiquei sentada olhando os outros saltarem. Recomendo vôo livre. Bom demais. Na próxima quero saltar de pára-quedas.






Voltamos pro hotel e fui dar uma volta na cidade. Super pequena e com umas casinhas super interessantes. Muitas vacas presas na frente da casa como se fossem carros estacionados. Uma tinha acabado de parir. Fui olhar o bezerrinho que não parecia estar bem e quase levei uma chifrada. A vaca ficou me olhando e mugindo ate que eu sai de lá. Medo hehe. À noite jantarzinho chique. Delicioso. Final de noite na varanda do quarto aprendendo sobre as estrelas que quase não consigo ver daqui. Som do rio de fundo. Perfeito.




Terceiro dia trekking. Lá se vamos nos pras montanhas. Duas israelenses e uma alemã se juntaram ao grupo. Ai nem preciso falar mais da paisagem maravilhosa. Milhões de fotos. Passamos por umas vilas construídas há uns 500 anos atrás. Enorme sensação de que aquele povo ainda vive como na época do inicio da vila. Mais vaquinhas. Crianças encantadas com os turistas e nos encantados com elas. Durante a caminhada, como não dava pra falar (falta de ar por causa do super preparo físico) comecei a pensar na vida daquele povo. Sem mordomias, numa simplicidade enorme, sem celular, sem televisão, internet, sem carne, sem muitos doces, sem vícios, tranqüilidade, o tempo parece que passa diferente. Acho que não conseguiria viver naquela vilazinha, mas com certeza sai de lá querendo mais equilíbrio.



Sobe montanha. No fim da caminhado uma chuva fininha se aproximou levando o sol. O frio começou a apertar. Nem fomos pra ultima parte do trekking. Tava até doendo pra respirar de tão frio. Mais chai. As israelenses nos contaram que faziam parte do exército. Em Israel o serviço militar e obrigatório a todos. 2 anos para mulheres e 3 para homens. Muitos resolviam continuar e entrar pro exército de vez. Elas disseram que o serviço deve sim ser obrigatório porque é muito importante saber lidar com as inúmeras situações que eles enfrentam todos os dias. Fiquei pensando como e viver num país não pacifico, apesar de que em muitos lugares do Brasil não estamos longe da violência. Era intrigante ver como elas falavam do exército e dos ensinamentos. Aquilo pra elas era como a religião. Forte. Bonito por ver a devoção pelo pais e pelo povo. Triste por pensar na violência e no pensamento fechado em que elas pareciam viver.
O jeep chegou e nosso ultimo passeio no silencio. Fomos pegar nossas malas e direto para o ônibus. Atrasadinhos. Oops. No meio daquele tanto de ônibus e a gente tentando achar o nosso. Lá estava ele com uma gambiarra melhorada na janela quebrada. Não concertaram hehe. 14 horas de volta a Delhi. Sono pesado, corpo cansado, mente limpa, olhos encantados, coração acelerado.
Dessa vez tive que ir direto por trabalho.

Assim como o Brasil agora acho que a Índia é abençoada por Deus e bonita por natureza. Mas que beleza. Ok podia ser menos louca e menos empoeirada aqui pros meus lados. Que bom que sempre podemos dar uma escapadinha.

Um comentário:

  1. Que lindo lugar!!! Quero ver mais fotos! Deve ter sido uma sensação maravilhosa mesmo...

    Bjuuuuus =)

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