domingo, 24 de janeiro de 2010

De 37 para 5

Hey hey, pessoas. Cá estou eu de volta com mais histórias. A vida já está ficando normal devo dizer, mas nunca sem surpresas. Sempre tem pelo menos um maluco na rua ou em casa pra dar risada.
Sai dos 37 graus de Mumbai e vim parar nos 5 graus impressionantemente frios de Delhi. Jesus amado….frio demais. Um dia estava sentada na sala dentro de casa e tinha fumacinha saindo da minha boca. Assim não dá.
Dessa vez quando cheguei no aeroporto alguém foi me buscar. Dai resolvi ir logo pra casa dos trainees e pular a fase de ficar no apartamento da TCS. Em Mumbai foi até legal, mas os 5 empregados atrás de mim o dia todo querendo saber se eu queria comer já estava me deixando sem graça. “Dinner Madam?” Is it good Madam?” “Coffe, Tea? E também já estava louca pra sair da mala.
Cheguei em casa e estavam todos esperando o jantar que o japonês, maluco estava fazendo. O apartamento é legal e grande, mas somos 9 aqui. Por enquanto tô gostando muito de morar aqui, e o tanto de gente ainda não incomoda, mas vamos ver como evolui. Gergo, o húngaro que dança samba e gosta de fado. Bea a húngara que é nossa guia turística, Satoshi, o japonês maluco que sempre chega em casa de capacete e no início eu realmente achava que, julgando pela maluquice do sujeito, ele usava o capacete como se fosse um gorro por causa do frio, mas não ele realmente tem uma moto. Matt, um polonês que quer me colocar na mala e me levar pra Polônia. Brunna, brasileira que já está nos deixando. Rodolfo, brasileiro que quase morreu de gastrite por causa da comida na primeira semana. Yoshi, japonês menos maluco. E Kim, canadense faz tudo. Estamos todos nos dando muito bem.
No primeiro dia de trabalho não fazia idéia de como chegar no lugar. Dai peguei o ônibus com um dinamarquês que mora na outra casa de trainees. Ele tava meio atrasado e saiu andando igual um louco e eu atrás correndo (eu achava que minha perna era grande). Quando ele olhava pra trás pra ver se eu estava acompanhando eu parava de correr e fingia que estava tudo bem. Chegamos no ônibus e conseguimos sentar, mas ai o trem foi enchendo, enchendo. Vixi. Tem um lado só para mulheres e se algum homem estiver sentado elas pedem pro cara levantar. Achei bom isso hehe. Todas as janelas tem barras de proteção porque os indianos tem verdadeira paixão por andar pendurado nas coisas. Sai do ônibus e pega rickshaw. Primeira vez aqui em Delhi. O trânsito é bem menos caótico, mas depois de quase ter virado tomate amassado e peixe morto intoxicado a nova aventura aqui é virar estátua de gelo. Na verdade eu até queimei meu nariz com o vento gelado como se estivesse torrando no sol. Meu nariz está até descascando Ludmila e Leandro, se estivessem aqui, já estariam me relembrando do meu apelido de praia dos velhos tempos.
Cheguei no trabalho bem atrasada, mas tudo bem. Conheci meu chefe e o coordenador. Esse é meu time. Mr. Mahesh e Yogendra que eu jurava que era mulher, Os dois são ótimos e pacientes. Me mostraram a empresa e fomos almoçar. Nos primeiros dias o Yogendra ia comigo pra me ajudar a escolher o prato. Agora eu tenho que me virar sozinha, porque os dois trazem comida de casa. Isso é bem comum na empresa e eles até tem um tamanho de marmita especial, pra fazer jus ao tipo de pratos e porções indianas. Às vezes continuo não fazendo idéia do que estou comendo. Só rezo pra não ser apimentado. A empresa tem uma cantina com um almoço tipo self service que não me agrada e os mini meals (prato feito). Tem sempre 5 opções de mini meals. Dai eu fico lá parada olhando e vai na sorte mesmo A comida é até muito boa. O primeiro dia que fui escolher sozinha tinha chicken numa das opções. Dai eu pensei “uh é isso mesmo que vou comer”. Dai o homem vai e me serve uma coxa de galinha com molho e chapati (um tipo de pão). Opções: ou eu como com a mão ou como com a mão. Aqui eles não usam faca pra nada. Só tem colher e garfo. Daí lá vai eu comer na frente do meu chefe com a mão. Que desengoço Meu Deus. Fiquei sem saber se podia usar a mão esquerda, mas foi mal, não consigo só com uma mão. Até aprendi como deve se fazer com os dedos, mas… Hoje em dia não tem mais problema usar a mão esquerda pra comer, mas alguns tradicionalistas não gostam. Me sujei toda hehe. Mas foi bem. Um amigo indiano me disse que não via problema em comer com a mão, a única coisa é que você as suja. Uai gente, mas é por isso que eu uso talher hehe. Engraçado como essa coisa de comer com a mão muda outros gestos como pedir dinheiro na rua dizendo que esta com fome. O pedinte leva a mão a boca ao invés de colocar a mão na barriga.
Eles aqui comem o dia todo. Dai a tarde, as 16:30 hora do chai. Adooooro chai. Eles colocam gengibre e acho que minha garganta ainda não pifou por causa disso. O Yogendra sempre gosta de me mostrar alguma coisa nova pra comer então pediu um Bread roll. Tipo de pão frito recheado de batata. Como tudo na índia bem leve e pouco calórico. Ele me vem com o trem pelando de quente e me dei um garfo. Ótimo vou poder comer com talher. Mas não, ele partiu o bolinho e pegou com a mão. Oh meu Deus o trem tá quente. Voltei por computador e nem sentia meu dedo que ficou dormente hehe. Tô começando a me preocupar com essa comilança e comida gorda. Me disseram que aqui os homens emagrecem e as mulheres engordam. Realmente essa índia é injusta: pobreza, displicência do governo, mulheres engordando. Assim não dá.
Bom pra voltar pra casa, depois da loucura da ida, descobri que a empresa oferece transporte e o ônibus para bem perto de casa. Nossa como eu fiquei feliz. Não precisar usar transporte público na índia é uma coisa muito reconfortante. Todo meio de transporte público aqui é lotado. O motorista do ônibus, o Neeraj, filho do Raj com a Firange estrangeira, adooora a buzina do ônibus. Nossa buzina o tempo todo. Um dia ele deu uma freiada brusca e não ouvi nenhum barulho, dai fui ver que tinha um tanto de vaca atravessando a rua. Pras vacas ele não buzina.
Com esses dias que estou passando aqui deu pra perceber que pra ser indiano você tem:
- que dirigir com uma mão só porque a outra fica na buzina.
- que ter incrível noção de espaço (que às vezes falha segundo meu post anterior)
- que ter ouvido seletivo para saber que no meio de tantas buzinas aquela é pra VOCÊ sair da frente.
- andar pendurado em algum lugar: trem, ônibus, rickshaw.
Esses dia voltando pra casa me peguei com um sorriso enorme na boca. Tava simplesmente olhando pela janela e observando. Gente como aqui é diferente. Observar os detalhes é simplesmente mágico. Como as pessoas se mexem, como andam, como conversam, como comem, como pedem dinheiro, como reagem ao ambiente, como vivem nessa sujeira. Já tinha vivido outras culturas, mas todas bem próximas da minha em certa forma. Parecia somente que usava uma lente diferente. Aqui parece um crivo diferente, estou olhando pra outro lado. Realmente Incredible Índia.

Próximo post vou contar sobre minha viagem para Jaipur. É pai eu também prometi que não ia viajar no primeiro mês pra me ajustar, mas….oops não posso ouvir falar em estrada.

Saudades de todos!!!!!

2 comentários:

  1. Gente!!!
    A pessoa que me ensinou a comer banana com garfo e faca no bandejão agora tá comendo com a mão... Esse mundo gira mesmo, né? rsrsrsrs
    Querida Letícia, bom demais saber das suas histórias, viu?
    bjos!!!
    Márcia Elisa calça quadrada (kkkkk)

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